Não sou um gajo optimista. O que não faz de mim um deprimente pessimista. A falta de optimismo não decorre apenas do temperamento ou da elementar observação e participação na realidade. Ser optimista quando todos os dias mortos, acidentes, falências, injustiças e sofrimentos, é ingénuo e até obsceno. E sempre me pareceu que deitar foguetes antes da festa é uma precipitação, é pôr o carro à frente dos bois, é uma fonte de decepções.
Não ser optimista não é acreditar que os projectos vão falhar e que os sonhos são apenas devaneios que consolam. Não ser optimista é ter a cautela de conseguir conceber o pior, é ter presente que é preciso dar o litro para se ser bem sucedido, é saber que manter uma conquista é mais complicado que conquistar. Não ser optimista é preferir as realizações às promessas, é sentir que nunca faremos tudo o que queremos e que nunca seremos como quereríamos ser, é estar consciente que a nossa colossal ignorância só pode ser combatida pela constante fome de aprender. Não ser optimista é ter presente que muitas vezes não compreendemos e não nos compreendem, é lamentar que nos amem quando não amamos, é achar que envelhecemos rapidamente. E não ser optimista é saber que se pudéssemos, estaríamos sempre a adiar o cemitério.
A quem ler este rascunho, votos de um 2007 memorável.