Parece que em Lisboa, graças ao acordo próximo entre o IDT e a Câmara, se prepara a abertura de salas de chuto. É decisão que merece concordância. A toxicodependência é impossível de erradicar. Acreditar que é possível uma sociedade sem pessoas viciadas em heroína ou cocaína é uma ingénua e perigosa utopia. O proibicionismo pode empolgar polícias que amam a sua profissão e satisfazer quem julga que algumas drogas são substâncias diabólicas que escravizam fatalmente o ser humano. O proibicionismo, cruzada moralista e negócio infinitamente lucrativo, que nasceu nos Estados-Unidos no princípio do século XX a partir da aliança dos lobbies religiosos e da indústria farmacêutica, enriquece os traficantes, enche as prisões, prejudica os consumidores, atenta contra as liberdades individuais e não trava a toxicodependência. Geralmente, acentua-a. A existência de espaços destinados ao consumo higiénico de drogas ilegais pode reduzir a hepatite e o sida. Pode poupar as ruas a comportamentos que devem ser privados. Mas não vai mudar a política sobre algumas drogas, tola ou hipocritamente estigmatizadas. Podemos esvaziar uma garrafa de uísque enquanto comunicamos na internet mas não estamos autorizados a fumar meio grama de heroína para anular a angústia ou soltar a língua.