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sábado, 9 de outubro de 2004

Um economista quase desconhecido

Anselmo de Andrade viveu entre 1844 e 1928. Foi ministro da Fazenda em 1900 e em 1910. A sua leitura é obrigatória para quem ambicione conhecer com rigor a história económica e social do primeiro quartel do século XX. Leitura proveitosa e com momentos deleitosos.
É provavelmente ignorado pela esmagadora maioria dos estudantes universitários de Economia e História. Transcrevo um pedaço extraído do seu Portugal Económico, Teorias e Factos; editado em 1918 e reeditado em 1997 pelo Banco de Portugal.
O trecho que se segue prova que os valores ético-morais podem fazer disparatar - quanto mais não seja por excesso ou distorcedora generalização - qualquer profissional que estude e analise a sociedade. Prova que podem potenciar o pessimismo, sempre pouco recomendável.
Quem se indignar com a sua leitura não terá vocação para investigações históricas e deverá preocupar-se com o seu sentido de humor; quem se divertir e instruir com ela estará a eliminar eventuais preconceitos que negam ou desconhecem os prazeres que as narrações explicativas do passado proporcionam.

A propósito do "trabalho da mulher na fábrica" escreveu Anselmo:

«Ora ninguém ignora as funestas consequências, que traz ao regime doméstico, a deserção do lar para a oficina. Sai muito cara esta minúscula receita subsidiária. É a poucos passos a desordem no domicílio, e a desmoralização na família. Abandona-se ao acaso a educação dos filhos. Nunca mais se trata da mobília nem do vestuário. A cozinha é feita à pressa e mal, com prejuízo da saúde de todos. O chiqueiro substitui a casa. A família desagrega-se. Perturba-se a paz conjugal. Da indiferença do marido pela mulher passa-se ao aborrecimento. O lar muda-se para a taberna. Os filhos fazem na rua a aprendizagem do crime e os preparatórios para a cadeia. A doença, com todo o seu cortejo de misérias físicas e morais, põe geralmente a este estado de cousas o seu fúnebre epílogo, que por isso se passa as mais das vezes no hospital.»