Entre direita e esquerda existem substanciais diferenças. Sem aprofundar, importa registar que é normal a esquerda ser quantitativamente mais numerosa que a direita. Ser de direita não é fácil: exige razoáveis conhecimentos de História, exige realismo e lucidez, exige não pensar maniqueísticamente a preto e branco, exige a valorização do colectivo e a necessária contenção do individualismo, exige algum patriotismo, exige a crença na responsabilidade e na iniciativa individuais, exige a insatisfação permanente e a vontade permanente de melhorar e aperfeiçoar, exige honestidade intelectual e respeito pela variedade cultural da civilização humana.
Usarei a vela e a electricidade, caricaturalmente, para mostrar como é a esquerda e como é a direita.
A esquerda, despenteada e vestida desajeitadmante, com a voz sonora e agressiva, proclama pomposamente: as velas são a prova do miserável atraso em que sobrevive o povo, as velas fazem perigar a segurança e a vida dos trabalhadores que descansam, as velas caducaram e são imprestáveis. Destruam-se todas as velas, a ninguém se permita a utilização de velas. Viva a electricidade redentora, a electricidade que traz o progresso e que ajuda os trabalhadores na sua labuta diária. Viva a Electricidade e morram as velas ( a multidão extasiada, obedece, aplaude e berra).
A direita, vestida com a elegância e a discrição que as posses permitem, pausada e claramente, diz: inauguramos esta barragem com compreensível alegria e até orgulho. A barragem resulta da disponibilidade financeira do Estado, do estudo das necessidades desta região, do planeamento rigoroso dos técnicos e do trabalho dedicado dos operários. Esta fonte de energia eléctrica beneficiará as famílias e as empresas. É duradoura obra, com perene utilidade colectiva.
A energia eléctrica tornará dispensável as tradicionais velas, há séculos presentes nas casas desta região. Mas as velas não têm que desaparecer. Serão úteis quando a electricidade pontualmente falhar. E as velas serão sempre aprazível acessório para as noites de amor.
Viva Portugal.