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sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Iris, a esbanjadora

Ainda ontem o disse a uma amiga: há duas coisas que me alteram, que me desagradam, que podem mexer com os meus nervos: a incompetência profissional; a falta de ambição de pessoas que têm muitas qualidades e que se desdenham e subestimam e deixam explorar.
A Iris é uma brasileira de 33 anos que veio a Portugal visitar a irmã e por cá ficou, perdendo a vida a cozinhar divinamente. Não haverá receita que a assuste. Adora cozinhar e é paciente. Frequentou a universidade. Sabe estar e sabe comunicar com qualidade. É uma imigrante quase atípica. Poderia escolher o restaurante onde trabalhar e ter um bom salário, um salário que a não obrigasse a apertar o cinto e lhe permitisse poupar. Em vez disso, é a única cozinheira do restaurante e recebe 550 euros por mês. A coisa chocou-me. E revoltou-me quando me disse que os patrões eram os seus melhores amigos, porque passeiam e jantam juntos, porque falam muito e trocam confidências.
Eu disse-lhe que amigos amigos negócios à parte, disse-lhe que se fossem seus amigos não lhe pagariam um salário vergonhoso dizendo que não podem pagar mais. Disse-lhe eles mentem e tu deixas-te explorar. Disse-lhe eles abusarão sempre, enquanto não sacudires essa mentalidade de escrava conformada. Quis ajudá-la e zangou-se comigo. Antes de desaparecer, disse que tenciona sair de Portugal, presumindo eu que queira voltar para o Brasil, para junto da mãe e dos seus sete irmãos. Menos mal para ti Iris.