É o título do filme, recente e rodado em Portugal, da senhora Catherine Breillat, nascida em 1948. Escreveu-o também, adaptando o seu livro "Pornocratie". A senhora avisara o público presente no auditório do Institut Franco-Portugais de que se trataria de um filme "lourde", embora as imagens não fossem para nós - seres sexuados - uma novidade. O público não se encolheu e riu repetidas vezes.
O enredo é simples: uma jovem mulher está tristonha e sem companhia, numa discoteca cheia de alegres homossexuais. A caminho da retrete cruza-se e toca num homem jovem, que a não perdendo de vista e intuindo-lhe o desespero, a surpreende logo a seguir em recatada tentativa de suicídio. Interrompe a hemorragia do pulso e leva-a, certamente conhecedor da celeridade das urgências dos hospitais de Lisboa, a uma farmácia onde em dois minutos lhe remendam os golpes. Segue-se uma conversa dorida, durante a qual há tempo para sexo oral na via pública e um bizarro convite: a jovem propõe-lhe pagar para ser observada e ouvida na intimidade do seu quarto. Pragmático, ele aceita o desafio.
Desnudada na sua cama, em casa isolada junto a uma falésia batida pelo mar enraivecido, a jovem lamenta os homens: não compreendem as mulheres, ignoram ou desprezam prazeres que as mulheres muito apreciam e de que muito carecem, obcecados que estão com a excessiva importância que atribuem à erecção. A esta inabilidade junta-se a vontade de domínio masculina: os homens querem que precisem deles mas não querem precisar delas, e estão sempre disponíveis para a incompreensão e para a falta de diálogo. Ele responde desenvolvendo uma misóginia grotescamente divertida. Mas como a moça é bela e envolvente, o homem, entre o exame minucioso do sexo feminino e os copos de uisque, sente o desejo a crescer e acaba por não resistir: homossexuais cuidado que afinal talvez as mulheres sejam do vosso agrado. Chegam ao fim as noites contratadas, a moça desaparece e o homem, pasmado e indignado com aquele despojamento, com aquele exibicionismo da fraqueza e da necessidade, em que participou, acaba por deixar o maço de euros dos seus serviços em cima do balcão onde bebera para esquecer ou tentar compreender o que experimentara .
Ao contrário do que talvez esperasse, o filme da senhora Breillat não chocou : depois de Sade, de Pasolini, de Cicciolina ou de Shere Hite, não é fácil surpreender quando se faz da sexualidade o objecto principal de um filme, mesmo que tenha, como este tem, demasiado e caducado feminismo.