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domingo, 26 de novembro de 2006

O nilista

Portugal tem a felicidade de ter um nilista em plena e fecunda actividade. O nilista é o senhor Vasco Pulido Valente. Historiador de qualidade, a sua obra O poder e o povo é um exaustivo e muitíssimo bem documentado estudo sobre a implantação da República. É absolutamente imperdível porque à erudição junta o esmerado português, raro entre os enfadonhos profissionais da História.
VPV é também cronista original e temido. Hoje, no Público, VPV escreve sobre Portugal à chuva . A tese de VPV, necessariamente sintética, superficial e contundente dada a natureza lacónica das suas crónicas, é a seguinte: as chuvadas inundaram Portugal porque Portugal é um país estrutural e irremediavelmente atrasado e miserável, que sempre falhou o encontro com a modernidade. As directivas e os rios de milhões da União Europeia permitiram pintar a fachada mas não mudaram as fundações de Portugal, que "é de ponta a ponta uma improvisação" e a "história da democracia portuguesa, que estranhamente se imagina europeia, tem sido uma comédia de erros."
VPV tem razão: o Estado português, que VPV já serviu como secretário de Estado da Cultura e como deputado, o Estado Português que paga um salário a VPV pelas suas brilhantes investigações académicas no ICS, é, não obstante o trabalho de algumas pessoas muito qualificadas e bem intencionadas, uma incompetente e voraz máquina burocrática. Não haja ilusões: com estes demagógicos e medíocres partidos, que assaltaram, ocuparam e lesaram o Estado, não há reforma possível. Um dia, os militares e as elites empresariais perceberão isto, acordarão da sua letargia, e actuarão em conformidade.