A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal




segunda-feira, 10 de março de 2008

Ainda não chegaram lá

Os professores estão saturados e decidiram manifestá-lo publicamente, enchendo a Praça do Comércio. Pediram a demissão da ministra, denunciaram o sistema de avaliação que está a ser implantado, lembraram a sua degradação profissional. Entende-se a revolta, que me inspira simpatia e interesse. Sem ensino seríamos ainda piores animais; no ensino, resignadas ou angustiadas, esbanjando-se, estão pessoas que estimo e admiro. A manifestação será lembrada pela adesão massiva, mas não apressou a mudança que um dia chegará. Dos 140.000 professores vinculados ao Ministério, não têm visibilidade aqueles, poucos, que defendem o fim da função educativa do Estado. O que se estranha porque o truísmo é simples: como gere o ensino reiteradamente mal, o Estado, por decoro, por respeito pelo presente, por apreço pela eficiência, por preocupação pelo futuro, deve abdicar de ser agente educativo. Da reforma da instrução primária de Rodrigo da Fonseca em 1835, que ambicionava, na sua piedosa teoria, "fundar a cidadania" e promover a "civilização geral dos portugueses" à acentuada aposta de Marcello Caetano, o Estado demorou cerca de 140 anos até concretizar o seu propósito de levar à escola todas as crianças de 6 anos.
Que o Estado não tome a iniciativa de entregar a quem sabe o ensino, entende-se, dada a coragem política e a ética da generalidade dos seus dirigentes máximos, e a tacanhez burocrática da 5 de Outubro. Que os professores teimem em querer ter tal patrão, não abona em favor da respectiva capacidade de análise e auto-estima. Mais forte que a vocação de ensinar, é a paixão do funcionário público pelo salário certo e pelo comodismo de um trabalho sem competição.