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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O drama de Catarina

Catarina é uma jovem menina que em adolescente, planeando o seu futuro, tomou a sensata decisão de se inscrever num partido político. Aplicada, fez os seus estudos universitários, e cumpriu os seus deveres de militante. Terá colado cartazes, oferecido panfletos, assistido a reuniões, conhecido pessoas. Como em terra de cegos, quem tem um olho é rei, alguém deu pelas qualidades da Catarina e convidou-a a integrar uma lista de deputados. E a Catarina, encantada com a ideia de trabalhar na fábrica das leis que teoricamente o Parlamento é, aceitou. Milhares de pessoas que nunca tinham visto, ouvido ou lido a Catarina, milhares de eleitores que desconheciam a existência e o currículo da Catarina, votaram na tal lista em que figurava o seu nome. Os papéis com a cruz que marcam a igualdade política dos maiores de 18 anos, sejam eles cumpridores ou criminosos, inteligentes ou idiotas, foram contados, e a Catarina foi eleita deputada, elevada a digníssima representante dos representados que a ignoravam.
Ao contrário de muitos dos seus colegas, que limitam as suas funções a carregar no botão a favor ou no botão contra, e que nunca discursam, perguntam ou propõem; ao contrário destes colegas preguiçosos ou ignorantes, tímidos ou inadaptados, que nos lembram uma "ociosidade organizada", a Catarina discursa, pergunta, redige pareceres e projectos de leis. E a Catarina, moça com neurónios activos, fez-nos saber que está agora na embaraçante situação de votar contra a sua consciência, porque é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o partido lhe determinou que votasse contra uma proposta de lei que visa reconhecer o casamento entre os homossexuais. Como é uma funcionária obediente, como sabe que deve o lugar ao patrão que a colocou na tal lista, a Catarina vai votar contra o que defende. Como muitos outros o tinham feito, a Catarina deu-nos uma real lição sobre a independência e a liberdade dos deputados: não existem. E eu cada vez mais me convenço que este Parlamento é uma instituição caríssima, irrelevante e dispensável.

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