Há pessoas irremediavelmente tristes. Estão naquela zona cinzenta: não adoram a vida, não a detestam, suportam-na porque estão habituados a viver. Não culpam o mundo, não se queixam dos outros, não inventam uma obscura conspiração que se diverte a tramá-los, sabem que são os responsáveis da sua decadência, queriam mudar mas não conseguem, queriam sentir uau a vida é formidável, mas concluem que porra a vida uma decepção permanente, não há maneira de embalar, de engatar, continuam vivos quase por inércia, talvez por não conseguirem desesperar-se, talvez pela remota esperança de um dia acordarem com outro feitio. Sem o pretenderem, sem a intenção consciente, são os desdenhosos da vida, os vencidos que ainda nem sequer tiveram que suportar complicados sofrimentos. Têm um mérito, estes sacanas: sabem esconder-se, sabem não contagiar.