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sábado, 26 de fevereiro de 2005

Os tristes

Há pessoas irremediavelmente tristes. Estão naquela zona cinzenta: não adoram a vida, não a detestam, suportam-na porque estão habituados a viver. Não culpam o mundo, não se queixam dos outros, não inventam uma obscura conspiração que se diverte a tramá-los, sabem que são os responsáveis da sua decadência, queriam mudar mas não conseguem, queriam sentir uau a vida é formidável, mas concluem que porra a vida uma decepção permanente, não há maneira de embalar, de engatar, continuam vivos quase por inércia, talvez por não conseguirem desesperar-se, talvez pela remota esperança de um dia acordarem com outro feitio. Sem o pretenderem, sem a intenção consciente, são os desdenhosos da vida, os vencidos que ainda nem sequer tiveram que suportar complicados sofrimentos. Têm um mérito, estes sacanas: sabem esconder-se, sabem não contagiar.

2 Comments:

Blogger Ana de Castro said...

Há dias em que precisava disso mas continuo estupidamente a acreditar que vale a pena não viver adormecido..
O cheiro a primavera, pela manhã, o sorriso de uma criança que escapa por entre a multidão ou simplesmente saber que não sei fazer outra coisa senão viver, são motivos, alguns, para continuar..
Pode ser que um dia eu consiga contagiar..:))

Besos

10:14 da tarde  
Blogger teresamaremar said...

Aquando da leitura deste teu texto veio-me a vontade de o comentar com um outro, lido algures e algures guardado.
Finalmente, encontrei-o, e aqui vai, à laia de enleio, à laia de despertar...
"Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos.
Uma só idade para nos encantarmos com a vida, para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade sem medo nem culpa de sentirmos prazer.
Fase dourada em que podemos criar e recriar a vida à nossa propria imagem e semelhança, vestirmo-nos com todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta que enfrentamos com toda a disposição de tentar algo novo e de novo quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se Presente e tem a duração do instante que passa."
Mário Quintana
[chamam-lhe o poeta das coisas simples :)]

12:02 da tarde  

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