O engenheiro Sócrates, próximo Chefe do Governo, escreveu-me a dizer "confio em si". Não estava à espera. Eu nunca estive na companhia do senhor. Nunca bebemos café, nunca nos cruzámos na rua, nunca trocámos meia dúzia de banalidades, nunca lhe organizei o arquivo. Passada a surpresa, tentei pensar um pouco. E raciocinei o elementar: se ele não me conhece, não pode confiar em mim. Afirmar que confia em mim é prova evidente de ingenuidade ou de mentira. Ora, com tantos anos de política no currículo, a ingenuidade do engenheiro parece-me improvável. E pronto, Sócrates diz que acredita em mim, eu não consigo acreditar que ele acredite e continuo teimosamente a não acreditar nele. Saiu-lhe o tiro pela culatra: é o que acontece quando nos elogiam disparatada e injustificadamente.