Leio as Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco. O seu envolvimento com uma senhora casada levou-o, em 1861, à cadeia da Relação, no Porto, onde conheceu gente que o superava na infelicidade. Ao dar-nos a conhecer as dificuldades do amor entre o tenente Salazar e a menina Rosa, Camilo declara uma aversão, que por ser tão pouco romântica, merece registo. Eis uma autêntica camilada:
"Sou tão avesso e tenho tamanho asco a beijos, como aquele frade da mesa censória que mandava riscar beijo, e escrever ósculo. Os teólogos casuístas, e nomeadamente Santo Afonso Maria de Ligório, conjuram unânimes contra o beijo, inscrevendo-o no catálogo das desonestidades. Não digo tanto. Entendo que beijo pode ser acto inocente, mas não pode ser nunca limpo e asseado. É um contacto de extrema materialidade, com toda a sua grosseria corpórea."