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quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Para quem não sabe

Há muito boa gente - gente letrada, informada, que sabe opinar - que acha que Portugal antigamente era um triste e atrasado País, parado no tempo e isolado no mundo por culpa da teimosia de um velho senhor incapaz de se adaptar às mudanças sociais.
Esta boa gente tem um tremendo defeito que a prejudica e a leva a aceitar as barbaridades que em tempos ouviu na tv ou leu em jornais e revistas: estas pessoas que levam inquéritos criminais ou testes para ler em casa, enfadam-se com o estudo da História, acham a História relíquia desnecessária; e por isso, são muito ignorantes em matéria de História. Preguiçosas para estudar o que não lhes traz qualquer utilidade profissional, estas pessoas também se destacam pelas suas deliciosas contradições: acham os bancos entidades que abusam exageradamente dos juros mas recorrem ao empréstimo para a compra de casa; acham que os homens são quase todos iguais mas não dispensam a sedução; acham que as crianças hoje crescem com demasiadas facilidades e inundam os seus filhos de bens quase luxuosos; estão saturadas dos seus trabalhos mas não lhes passa pela cabeça mudar de vida; adoram criticar Portugal e quase desconhecem o seu passado.
Ora, não é ilegítimo admitir que quem não se interessa com o passado colectivo, pouco cultiva o seu passado. E não é disparatado admitir que quem desvaloriza o que já viveu, quem não acautela a passagem do tempo e quem não previne a degradação da sua memória, escrevendo sobre si, sobre a sua vida, está a dizer-nos que pouco se tem conta, pois não se acha matéria merecedora de ser registada pela palavra.
Isto serve para lembrar a quem diz que não gosta de História que reflicta na frase antes de a pronunicar. A História não é apenas a mais completa ou eclética das ciências sociais.
A História é a memória da Humanidade. É o esforço de não esquecer e de tentar compreender os que já morreram. É recuperar os seus sofrimentos e as suas conquistas; as suas destruições e as suas criações. A História é a crónica sem fim da ambivalência humana. Sem os mortos que nos transmitiram genes, hábitos, valores e património, não estaríamos aqui, eu a escrever e tu a ler. Porque foram melhores que nós, talvez os desdenhemos.