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quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Bicharada

Gosto de animais. Gosto tanto que às vezes chego a pensar que gosto mais de animais que de pessoas. Certo é que os animais desconhecidos facilmente me cativam e me comovem. E não gostar de alguns, ou melhor, recear alguns, não desejar encontrar alguns, não diminui a enorme afeição que tenho pela bicharada que não escreve e não lê. Sempre que as circunstâncias o proporcionam, este sentimento impele-me à acção: ontem cruzei-me com uma cadela boxer abandonada por um qualquer bandalho que merecia a prisão. Mimei-a e alimentei-a. Só não a convidei para dormir no meu quarto porque a senhora minha mãe sofreu que se fartou quando a nossa Bonita morreu e continua indisponível para repetir a experiência. Gostar de animais traz a consoladora sensação de não se ser uma besta insensível, mas tem dois sérios inconvenientes: o primeiro é de natureza financeiro-logística: palpita-me que nunca terei um espaço que me permita reunir os animais que queria ter; o segundo, menos idealista, é relativo à moral alimentar: gostar de animais não me impede, qual hiena, de comer alguns. Não trabalhar em talhos, aviários ou matadouros, pouco me inocenta. Mas a culpa quase não é minha: é dos genes, da educação e do paladar.