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sábado, 16 de setembro de 2006

Um fiasco chamado Sol

Este sábado foi lançado no mercado mais um jornal, o semanário Sol, cuja direcção é constituída por gente que abandonou o Expresso para abraçar este projecto financiado por um empresário da indústria farmacêutica, um empresário do aço e do imobiliário e um administrador da banca.
Estes accionistas merecem palminhas pelo investimento: movimentam capitais, criam emprego, não têm ainda a certeza do lucro. Os jornalistas dirigentes, aqueles que não pagam as instalações, os equipamentos e os salários; que têm as funções de decidir o que se publica, de preparar as manchetes, de escrever editoriais e colunas de opinião, de convidar colaboradores, de escolher o grafismo, não merecem palminhas, mereciam puxões de orelhas e açoites: o primeiro número do Sol, que devia arrebatar o leitor, é, sem surpresa, de uma normalidade bocejante, de um cinzentismo e superficialidade que desencorajam nova compra.
A primeira página avisa que o Sol é "um jornal que vale por si", que "não oferece brindes nem faz promoções", alardeia, prolixamente, que o Sol será "apartidário, sério, rigoroso, sereno, ponderado, responsável, convicto, ousado, acutilante, incómodo, optimista, positivo, moderno, alegre, claro, directo, conciso, completo, profundo, irreverente, influente, surpreendente, institucional", que será um jornal "sem tabus mas com princípios". Isto, para além da excessiva adjectivação tão querida do seu director, ultrapassa o orgulho e a esperança que se sentem quando se empreende algo de novo. Isto é despudorada vaidade, é a famigerada "garganta" de quem se julga formidável. E este jornal bébé, que por imitar ou decalcar o Expresso não deixa de ser bem vindo ao empobrecido mundo da imprensa portuguesa, noticia na primeira página do seu histórico primeiro número, que o ignóbil Isaltino Morais tem a sua vivenda no Algarve "apreendida por ordem do Ministério Público" e que Jorge Sampaio foi considerado por uma sondagem o melhor Presidente da República dos últimos 50 anos. O País, ávido de notícias relevantes, encantou-se com estas pérolas de acutilância e pertinência informativa. O Expresso não se queimará com este Sol.