Encontrei num alfarrabista do Chiado um livrinho da Secretaria Provincial de Angola, escrito pelo respectivo secretário Jorge Eduardo da Costa Oliveira. O livro,
Economia de Angola evolução e perspectivas 1962-1969, nunca terá sido, seguramente, lido pela maioria dos irresponsáveis que decidiram, sem consultar a população portuguesa, o precipitado abandono do Ultramar português. Os governantes de 1974-1975, inexperientes ou empregados de Moscovo, que então se sucederam em governos sem coesão política, que se revezaram em governos absurdos, não estiveram à altura da enorme importância dos acontecimentos. Como escreveu Manuel de Lucena, historiador insuspeito de simpatias pelo regime autoritário de Marcelo Caetano, no poder reinava "
a total impreparação da grande maioria do pessoal de esquerda para as asperezas e os conflitos que a construção de uma autêntica solidariedade política entre Portugal e os novos países lusófonos necessariamente implicaria. E pior: em vésperas dos 25 de Abril, predominavam à esquerda, vindos de longe, internacionalismos primários, que não permitiam a percepção de interesses portugueses autónomos e fomentavam noções e sentimentos impeditivos dessa solidariedade e de qualquer descolonização responsável." Isto é, - eu dispenso-me subtilezas - foram pessoas sem as requeridas qualificações, foram pessoas sem a lucidez e sem o patriotismo que se exigem para a direcção superior dos negócios públicos, que decidiram, desastradamente, ineptamente, o assunto ultramarino: pior
descolonização seria impossível, embora alguns tenham dito, zombando de nós, que era
descolonização exemplar.
Estes pessoas - que não se lembraram da razoável e viável solução federalista; que associaram o Ultramar ao Estado Novo, esquecendo que o Ultramar era anterior ao regime deposto e não era específico deste; que talvez receassem ser chacinados pelos dirigentes guerrilheiros na mesa das negociações se os não satisfizessem totalmente; que literalmente entregaram o ouro aos bandidos sem qualquer contrapartida; que se renderam quando militarmente as tropas davam conta do recado - talvez nunca tenham lido este livrinho da Secretaria Provincial. Se o tivessem feito, teriam ficado a saber, por exemplo, o seguinte:
Em 1962 Angola exportou
Café... 156.887 ton.
Minério de ferro...445.987 ton.
Petróleo em bruto...114.951
Algodão em rama...5.172 ton.
Milho...116.681 ton.
Diamantes...985.776 quilates
Madeira...51.162
Em 1969, 8 anos após o começo das acções da guerrilha independentista, Angola exportou
Café...182.836 ton. + 73 %
Minério de ferro...5.109.678 ton. + 738%
Petróleo em bruto...1.504.338 ton. + 757%
Algodão em rama...18.807 ton. + 233%
Milho...177.393 ton. + 101%
Diamantes...1.980.395 quilates + 231%
Madeira...152.004 ton.+ 304%
Estes números impressionam qualquer um e permitem ter uma ideia do desenvolvimento económico de Angola. Outros números, como o de alunos matriculados no ensino público, que em 1962 era 143.469 e em 1968 era 395.094, indicam desenvolvimento social. Foi este notável crescimento que a descolonização decidiu interromper e liquidar. Era demasiado pouco português este sucesso.