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quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Notas sobre Angola

Encontrei num alfarrabista do Chiado um livrinho da Secretaria Provincial de Angola, escrito pelo respectivo secretário Jorge Eduardo da Costa Oliveira. O livro, Economia de Angola evolução e perspectivas 1962-1969, nunca terá sido, seguramente, lido pela maioria dos irresponsáveis que decidiram, sem consultar a população portuguesa, o precipitado abandono do Ultramar português. Os governantes de 1974-1975, inexperientes ou empregados de Moscovo, que então se sucederam em governos sem coesão política, que se revezaram em governos absurdos, não estiveram à altura da enorme importância dos acontecimentos. Como escreveu Manuel de Lucena, historiador insuspeito de simpatias pelo regime autoritário de Marcelo Caetano, no poder reinava "a total impreparação da grande maioria do pessoal de esquerda para as asperezas e os conflitos que a construção de uma autêntica solidariedade política entre Portugal e os novos países lusófonos necessariamente implicaria. E pior: em vésperas dos 25 de Abril, predominavam à esquerda, vindos de longe, internacionalismos primários, que não permitiam a percepção de interesses portugueses autónomos e fomentavam noções e sentimentos impeditivos dessa solidariedade e de qualquer descolonização responsável." Isto é, - eu dispenso-me subtilezas - foram pessoas sem as requeridas qualificações, foram pessoas sem a lucidez e sem o patriotismo que se exigem para a direcção superior dos negócios públicos, que decidiram, desastradamente, ineptamente, o assunto ultramarino: pior descolonização seria impossível, embora alguns tenham dito, zombando de nós, que era descolonização exemplar.
Estes pessoas - que não se lembraram da razoável e viável solução federalista; que associaram o Ultramar ao Estado Novo, esquecendo que o Ultramar era anterior ao regime deposto e não era específico deste; que talvez receassem ser chacinados pelos dirigentes guerrilheiros na mesa das negociações se os não satisfizessem totalmente; que literalmente entregaram o ouro aos bandidos sem qualquer contrapartida; que se renderam quando militarmente as tropas davam conta do recado - talvez nunca tenham lido este livrinho da Secretaria Provincial. Se o tivessem feito, teriam ficado a saber, por exemplo, o seguinte:

Em 1962 Angola exportou

Café... 156.887 ton.
Minério de ferro...445.987 ton.
Petróleo em bruto...114.951
Algodão em rama...5.172 ton.
Milho...116.681 ton.
Diamantes...985.776 quilates
Madeira...51.162

Em 1969, 8 anos após o começo das acções da guerrilha independentista, Angola exportou

Café...182.836 ton. + 73 %
Minério de ferro...5.109.678 ton. + 738%
Petróleo em bruto...1.504.338 ton. + 757%
Algodão em rama...18.807 ton. + 233%
Milho...177.393 ton. + 101%
Diamantes...1.980.395 quilates + 231%
Madeira...152.004 ton.+ 304%

Estes números impressionam qualquer um e permitem ter uma ideia do desenvolvimento económico de Angola. Outros números, como o de alunos matriculados no ensino público, que em 1962 era 143.469 e em 1968 era 395.094, indicam desenvolvimento social. Foi este notável crescimento que a descolonização decidiu interromper e liquidar. Era demasiado pouco português este sucesso.