Fátima Bonifácio, historiadora de imenso mérito, escreve hoje no
Público que
"a violação explícita de promessas eleitorais abala fatalmente a legitimidade para governar". Impossível discordar, claro está. A pequena tragédia é que a violação e o incumprimento das promessas, a despudorada demagogia dos titulares do poder político, não são crimes ou sequer infracções. Nos Tribunais, é proibido mentir aos juízes e magistrados. Quem o faz arrisca-se a ser acusado de perjúrio. No Governo e no Parlamento mentir parece ser uma necessidade e um hábito, uma indelicadeza inócua, que se esquece ou se tenta dissimular. Não há quem destitua o senhor ministro por ostensivamente faltar à verdade, não há quem multe o senhor deputado por transformar suposições em factos. Enfim, tristemente, não há lei que contemple esta realidade social. E não há quem se indigne com existência de uma e com a ausência da outra.
Em tempos não muito distantes, houve outra compreensão ética da actividade política. Um dos seus mais ilustrados represententes escreveu que ela não podia ser "
esse alarido de promessas sem consistência e de exigências sem seriedade, "esse borbulhar de ideias sem fundo e arquitectar de planos sem base, " esse correr sem brio atrás de uma notoriedade sem mérito","esse atear de paixões incontroláveis e doentia exploração dos piores sentimentos", "essa estranha equivalência da verdade e da mentira". Não devia ser mas tem sido e parece que continuará a ser.