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quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Legitimidade

Fátima Bonifácio, historiadora de imenso mérito, escreve hoje no Público que "a violação explícita de promessas eleitorais abala fatalmente a legitimidade para governar".
Impossível discordar, claro está. A pequena tragédia é que a violação e o incumprimento das promessas, a despudorada demagogia dos titulares do poder político, não são crimes ou sequer infracções. Nos Tribunais, é proibido mentir aos juízes e magistrados. Quem o faz arrisca-se a ser acusado de perjúrio. No Governo e no Parlamento mentir parece ser uma necessidade e um hábito, uma indelicadeza inócua, que se esquece ou se tenta dissimular. Não há quem destitua o senhor ministro por ostensivamente faltar à verdade, não há quem multe o senhor deputado por transformar suposições em factos. Enfim, tristemente, não há lei que contemple esta realidade social. E não há quem se indigne com existência de uma e com a ausência da outra.
Em tempos não muito distantes, houve outra compreensão ética da actividade política. Um dos seus mais ilustrados represententes escreveu que ela não podia ser "esse alarido de promessas sem consistência e de exigências sem seriedade, "esse borbulhar de ideias sem fundo e arquitectar de planos sem base, " esse correr sem brio atrás de uma notoriedade sem mérito",
"esse atear de paixões incontroláveis e doentia exploração dos piores sentimentos", "essa estranha equivalência da verdade e da mentira". Não devia ser mas tem sido e parece que continuará a ser.