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domingo, 5 de novembro de 2006

Welcome Santana

Leio que Pedro Santana Lopes quer voltar às lutas parlamentares. Esteve retirado a tratar do seu arquivo, a alinhavar Memórias talvez, a deixar correr o tempo para que se desvaneça a lembrança do infeliz episódio do seu Governo.
Infeliz, sobretudo, porque o não deixaram trabalhar: Sampaio, em exercício de refinada pulhice, duvidosa constitucionalidade e impagável favor aos camaradas do PS, tomou a iniciativa de dissolver um Parlamento que solidamente apoiava o Governo. Basta lembrar que o segundo catastrófico governo de Gueterres não funcionou melhor que o de Santana, e Sampaio não cometeu a ousadia de despachar o actual engenheiro dos refugiados.
Como os críticos em Portugal são pagos para criticar a eito, não faltou quem cobrisse de mimos Santana Lopes. Em Portugal a inveja é uma instituição e Santana Lopes ganhou dezenas de inimigos quando ocupou a Secretaria de Estado da Cultura: os rancores acumulados e a sede de vingança explodiram com a decisão de Sampaio, e Santana foi julgado e queimado na praça pública com uma sanha, no mínimo, grosseira.
Mas Santana é animal político. Sabe que a morte é a única definitiva derrota, sabe que quem hoje é aclamado pode amanhã ser insultado, sabe que não perdeu lugar de destaque entre a eternamente medíocre classe política portuguesa. Santana tem a escola do PREC e tem o mérito, de que muitos não se podem gabar, de nunca ter acreditado nas enormidades da religião marxista-leninista. De crédulo não pode ser acusado, de alienado ideológico também não. Parece um liberal, coisa rara em Portugal, onde os democratas tomam o Estado por pai que deve facultar a saúde e a educação aos seus filhos adultos, um pai que não sabe gerir a casa, um pai que gasta mais do que deve e pode gastar, um pai que os portugueses adoram acusar e a quem nunca se esquecem de pedir ajuda.
Como é fácil de concluir, Santana sabe que voltará à ribalta: a fraqueza do actual PSD, a sua incapacidade de criticar com acutilância e justificação, a impotência carismática de Marques Mendes, o determinismo eleitoral do País, concorrem para o regresso bem sucedido de Santana. O resto compete-lhe: que não tenha perdido a capacidade oratória, que estude em profundidade alguns dossiês, que não se descontrole emocionalmente quando no Parlamento houver debates importantes, que não descure os fatos de bom corte, que consiga rodear-se de meia dúzia de pessoas capazes. Welcome back Santana.