Nós ansiosos por desancar o Governo e para nossa surpresa o Governo a tomar uma decisão que merece aplauso: alguns medicamentos vão ser vendidos fora das farmácias. Parece-nos bem senhor Primeiro Ministro: não perca a embalagem e continue a quebrar monopólios. Como este exemplo nos dá esperança, permitimo-nos sugerir que tenha a audácia e o bom senso de quebrar o monopólio daqueles que adulteram e comercializam a preços exorbitantes o haxixe, a heroína e a cocaína. Vossa excelência já foi jovem, não negou ter provado o famoso charro, sabe que a proibição não impede o consumo, sabe que a procura destas substâncias é eterna, sabe que o argumento da saúde pública que sustenta o proibicionismo é uma hipocrisia. Claro que haverá polícias chocados, claro que a indústria farmacêutica incialmente furiosa, claro que os norte-americanos a pensar que perdemos o juízo, claro que a credulidade da opinião pública - que é ensinada a acreditar que a dependência é uma fatalidade, culpa das drogas e não dos consumidores - poderá levantar protestos e incompreensões. Não é fácil excelência, mas vale a pena tentar mudar o que está mal e que dificilmente pode piorar. Pense no fomento agrícola, pense na criação de empresas, pense na redução da criminalidade e das mortes por envenenamento. Pense que é também uma questão de "direitos humanos". Do nosso direito às drogas. E enquanto medita, fique com um naco de Goethe:
"É uma exigência da Natureza que o homem, de vez em quando, se anestesie sem dormir. Daí o gosto de fumar tabaco, beber aguardente ou fumar ópio."