A notícia surpreendeu-me. O jornal Sol publicou uma sondagem na qual quase 30% dos entrevistados se declararam a favor da união ibérica, a favor da integração de Portugal no Reino de Espanha. Não esperava que esta disposição iberista fosse tão elevada. Mas, como a Espanha, que alguns dizem estar em processo de desintegração graças à autonomia cada vez maior da Catalunha e à disparatada decisão do Governo em negociar com os terroristas da ETA, respeita e assimila as diferentes culturas regionais que a compõem; como a Espanha estabeleceu a democracia pluripartidária não em resultado de uma revolução socialista histérica e destrutiva, mas através de uma equilibrada transição que não lesou a economia; como a Espanha tem administrações públicas competentes, que não tratam os cidadãos como crianças ou criminosos; como em Espanha os ordenados são maiores e os impostos menores; como em Espanha o património histórico e natural são geradores de orgulho e de receitas; como em Espanha as empresas se lançam com arrojo à conquista dos mercados mundiais; como em Espanha as pessoas sabem socializar-se com alegria, compreende-se esta crescente inclinação iberista: os portugueses viveriam melhor se fossem cidadãos espanhóis.
Triste é a constituição da República Portuguesa - jamais referendada pelos portugueses - não autorizar a existência de movimentos cívicos iberistas e não permitir que se possa pacificamente votar a questão, condicionando o exercício das liberdades políticas à aceitação da "independência" deste quase irrelevante rectângulo. Aqueles que ocupam hoje o poder, apesar de já não ideologicamente imbecilizados como em 1974/1975, apesar de mais realistas, apesar da soberania diminuída pela União Europeia, teimam em não vencer o tabu e continuam com a constitucional proibição iberista. O apego aos tachos é maior que a afeição "democrática".