É esta timidez em abordar desconhecidos que explica que ontem, em Santa Apolónia, junto às bilheteiras, não tenha perguntado a sua Alteza Real se ainda tem a esperança de algum dia vir a ser coroado rei de Portugal. O senhor D. Duarte, que tem presença física, que sabe aprumar-se, que usava óculos escuros para evitar ser reconhecido e evitar a improvável trabalheira de beijinhos e autógrafos aos súbditos, que comprou um exemplar da revista
Cais, preparava-se para viajar sozinho. O herdeiro do trono sem um secretário, sem um conselheiro, sem um amigo, sem um dos filhos, sem ninguém na estação para lhe dizer adeus boa viagem. Como se aquela banal solidão mostrasse a impossível ressurreição da monarquia.