A minha foto
Nome:
Localização: Lisboa, Portugal




terça-feira, 7 de novembro de 2006

Directamente do AOS

Como sou um tarado por documentos de arquivo contemporâneos, que ando a fotocopiar quase compulsivamente, segue-se um, inédito, nunca antes publicado, apesar de conhecido pelos especialistas. Trata-se de uma carta escrita por Oliveira Salazar ao Generalíssimo Franco, em 31 de Julho de 1961. A subversão em Angola começara poucos meses antes e Salazar tremera. Reforçada a sua posição com o afastamento daqueles que queriam substituí-lo, Salazar definira o essencial da decisão do Governo com a célebre "para Angola rapidamente e em força." E assim aconteceu: com a eficaz defesa militar, Angola conheceria a partir de então espantoso desenvolvimento económico, o que a tornou cada vez mais desejada por Washington e Moscovo, que cobiçavam substituir Portugal, alegando, anedoticamente, que queriam a auto-determinação dos angolanos...
A carta destaca-se pela importância do assunto, pelo habitual realismo e pela franqueza de Salazar.


Ao Generalíssimo Franco

Recebi a penhorante carta de Vossa Excelência de 16 de Abril. Infelizmente nos três meses que são passados não pude dispôr de um momento para agradecer a espontaneidade e amizade do seu gesto, os votos que formula pelo êxito da nossa luta e o oferecimento da sua ajuda leal e firme colaboração. Sou infinitamente grato a Vossa Excelência pelas suas tão amigas expressões e pelo apoio que sob tantas formas temos sentido da sua parte e da parte da Espanha. Absolutamente confiados na sua promessa, continuamos a contar com esse apoio - ser-nos-á necessário contar com ele.
Como a Europa parece ter perdido o sentido da sua missão e os Estados-Unidos com dificuldade a compreenderão também, estamos sob o domínio de uma onda de subversão que os afro-asiáticos levantam e o comunismo internacional aproveita e muito bem para os seus fins.
Nós, portugueses, vamos sentir em toda a parte dificuldades sérias; mas o facto de os actos de subversão começarem agora a atingir os pequenos territórios que não podem ter destino diferente do que têm, parece indicar que as esperanças depositadas no terrorismo do norte de Angola começam a ser menos firmes.
Certamente a luta é extrordinariamente difícil e custosa; nem podemos convencer-nos de que por ora estamos aptos a lutareficazmente contra tal género de guerra. Mas como esta não poderá manter-se senão com o auxílio externo, om desenrolar dos acontecimentos será definido pela atitude das grandes potências, especialmentedos Estados-Unidos. Parece-me que estes se perturbaram um pouco e tomaram de começo atitudes infelizes; mas suponho estarem agora a rever a sua posição. Salvo o caso da Rússia poder vir a dominar a política do Congo, e daí dominar o resto de África sob influência ocidental, as coisas hão-de ir a pouco e pouco melhorando.
No nosso acso é através da política interna que também se pretende atingir o Ultramar; felizmente o povo tem o instinto da sua conservação e sobrevivência e está do lado dos que entendem dever lutar. Pendo sempre para o pessimismo e por isso não posso revelar-me inteiramente confiante tanto quanto às dificuldades internas como às do Ultramar; mas não julgo poder fazer-se outra coisa que não seja organizar o melhor possível a resistência e ganhar tempo à espera que o mundo ocidental compreenda os valores morais da nossa causa, senão o seu próprio interesse.
Renovo os agradecimentos que de todo o coração envio a Vossa Excelência pela sua extrema gentileza. Todos aqui temos a maior confiança no apoio e ajuda que pela Espanha Vossa excelência nos promete.
Peço aceite a expressão da minha mais subida consideração e da maior estima.
Afectuosamente,

Oliveira Salazar