Às vezes acontece-me ouvir e ler pessoas dizerem ai que aborrecimento, ai que não se faz nada, estou aqui a passar o tempo. Isto causa-me estranheza e até algum pasmo. Hoje, no campo do aproveitamento do ócio, a oferta é virtualmente ilimitada : basta escolher, ter curiosidade, decidir uma navegação electrónica. Não falta informação para assimilar, conhecimento a produzir, entretenimento para distrair. E muitas pessoas sofrem de tédio, o tal tédio que Schopenhauer dizia ser primordial fonte de sociabilidade : as pessoas preferem aborrecer-se acompanhadas que sozinhas.Eu, que como qualquer outra pessoa, sofro todos os dias, nunca me aborreço.Proibi-me tal obscenidade que insulta a vida. Observo a biblioteca - pequena vaidade patrimonial - e olá Lobo Antunes, viva Gore Vidal e Montaigne e Camus e Salazar e Tchékhov e Junger e Pulido Valente e Ballester e Filomena Mónica e Camilo, obrigado por me impedirem a tentação do tédio.