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sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Deputados e ensino

Aviso aos eventuais leitores:segue-se um texto palavroso, com alguns números. Estava entretido com papéis, cópias do Diário do Governo, excertos de relatórios do Tribunal de Contas, instituição meritória cujo exemplar site vivamente recomendo porque está pleno de informação que interessa a quem se interessa pela comunidade e a quem se importa com o funcionamento da máquina estatal. E graças ao TC fiquei a saber que os senhores deputados, nossos conscienciosos representantes, utilizam os transportes públicos, porque, os 57.451 euros "pagos aos deputados, referentes ao passe social para a cidade de Lisboa, não estão suportados pelos correspondentes comprovativos da aquisição", esquecimento que se entende porque não custa imaginar os nossos dedicados deputados correndo para não perderem o autocarro que os levará ao templo do serviço público que é a Assembleia da República. Isto anima-me a não deixar de utilizar a Carris e faz-me desejar a felicidade de encontrar um deputado no autocarro, eu e ele sentados lado a lado, aprazivelmente debatendo a situação da ditosa Pátria.
Continuando com assuntos públicos, mergulho no passado, que é coisa que me vicia. Como estou a reunir legislação,encontrei os Decretos-Lei n. 38 968 e 38.969, de 27 de Outubro de 1952, que instituem a obrigatoriedade da instrução primária e regulam o Plano de Educação Popular, são antecedidos de um imperdível relatório sobre a situação do ensino em Portugal.
O relatório é um dos muitos exemplos da facilidade com que se podem desmentir as invenções historiográficas fundadas em motivos como a inveja ou a ignorância da obra realizada, o facciosismo ideológico, a antipatia ou o rancor pessoal, a desonestidade intelectual.
Como se sabe, vulgarizou-se em Portugal o seguinte: a I República promoveu empenhadamente a educação dos portugueses e o Estado Novo cultivou a ignorância dos portugueses. Eu reproduzo alguns números do relatório: em 1911 a taxa de analfabetismo das crianças entre os 7 e os 11 anos era de 79,4%, em 1930 de 73,1% e em 1950 era de 20,3%; no ano lectivo de 1925-26, o último da I República, eram 8.484 as escolas e os agentes de ensino existentes e no ano de 1952 estes eram 15.662; em 1925-26 havia 316.888 alunos matriculados no ensino oficial, em 1952 eram 626.107 as crianças matriculadas.
Fico por aqui, para poupar enfados. Quem tiver lido que interprete como entender. Certo é que se é fácil distorcer a História, também não é difícil avançar com os argumentos quantitativos que invalidam as ficções e as mentiras.

2 Comments:

Blogger Ana de Castro said...

Entendo que, as coisas boas são facilmente esquecidas.
Portugal é um caso paradigmático, para este povo à beira mal plantado, a história é algo de maquiavélico, destruidor de esperanças, desculpabilizador de tomadas de decisão que, nalguns casos, condenam esse dogma, monstro de criancinhas: o futuro.
Se não podemos culpar os nossos avós ou os nossos pais resta-nos exigir, de nós e de quem nos governa, que a história seja reclamada, abraçada e corajosamente imitada, quando o exemplo é merecedor disso.

2:39 da tarde  
Blogger Dawn said...

2Números nada dizem. Muita gente foi alfabetizada no Estado Novo sim, mas com propósito meramente ideológico. O tema da minha tese de Licenciatura anda à volta do ensino da História de Portugal no Estado Novo por isso não estou a falar de cor. Os miúdos iam para a escola mas trabalhar no campo faz esquecer rapidamente as letras.
Hoje em dia temos toda a gente a tirar o 12º ano, mal e porcamente. Apenas para contar para as estatísticas na União Europeia. Veja lá se somos mais qualificados afinal. :C

9:45 da tarde  

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