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sábado, 18 de julho de 2009

Alberto João

Não posso deixar de enviar um abraço amistoso, um sorriso compreensivo, ao Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, que teve a bondade de provocar as hostes, sugerindo a conveniência de se ilegalizarem os partidos comunistas. Como a Constituição proíbe a existência de organizações fascistas e racistas, Alberto João entende ser lógica a proibição de grupos que se reclamam do marxismo-leninismo, que apoiaram os cleptómanos e sanguinários socialismos africanos, que ainda admiram, aberta ou discretamente, Estaline, Mao, Fidel e outros ilustres déspotas. E Alberto João está certo: ou se autoriza a existência de todos ou se proíbe a existência de todos aqueles não apreciam a democracia e a ambicionam abolir: a discriminação macula e diminui o o sistema democrático, que altivo e forte, não devia recear a oposição; anula a solidez filosófica e a idoneidade jurídica do sistema, que não deve impedir a alguns a liberdade que teoricamente o caracteriza. Dando como certa a continuidade do sistema, dada a tutela da patroa União Europeia e ausência de elites que corporizem uma alternativa consistente, sou pela defesa da variedade ideológica, pela livre expressão das aberrações, sejam elas o comunismo, o racismo, as previsões astrológicas, os concursos das televisões, a futilidade dos diários desportivos.
Mas o milagre da ilegalização dos comunistas, que não se dará, seria uma oportunidade para muitos portugueses: como algumas dezenas de milhares teimariam em actuar colectivamente, o Estado teria que os perseguir: haveria mais polícias, mais juízes, mais cadeias. Os presos, que poderiam ler Cunhal na suas bem equipadas celas, libertariam milhares de vagas na comunicação social, nas editoras, nos sindicatos, nas artes subsidiadas, na administração municipal. O aumento da despesa pública que a repressão acarretaria, seria compensado com a poupança decorrente da diminuição das greves, com o aumento da produtividade do funcionalismo público e, ironicamente, com a ligeira subida da taxa de IRC tributada às entidades bancárias. É tentador, não é?

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

R de Ronaldo

Espreitei pela televisão, enquanto jantava graças à inesgotável generosidade da minha mãe, a apoteótica apresentação pública de Ronaldo como jogador do Real Madrid. Compreendi que estivesse com aquele sorriso triunfal e orgulhoso: dedicou muitas horas a refinar o seu talento e a desenvolver o seu corpo magnífico, entregou-se com muita confiança e ambição ao objectivo de integrar a elite dos craques do mundo da bola. Não pode senão estar contente quem saiu da pobreza anónima e chegou com merecimento à milionária fama mundial em dez anos. Compreende-se a felicidade de Ronaldo. O que não digiro é a atitude das televisões que, intencionais ou sem darem por isso, teimam em tratar os espectadores como idiotas e a si próprias se desqualificam. Será que o jornalista eufórico por relatar em directo a entrada de Ronaldo num jacto particular tem consciência da sua miserável figura? Será que os responsáveis por aquilo que deve ser objecto de notícia se dão conta de que os banais actos privados de uma vedeta não são jornalismo? Na verdade, pouco importa: fazem-no e continuarão a fazê-lo, alheios a princípios deontológicos, consolados pelas audiências e pela impunidade que o mau gosto, a falta de decoro e a demissão normativa do Estado proporcionam. Nas televisões, o lixo gerado engole quem o produz.

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