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Localização: Lisboa, Portugal




terça-feira, 15 de março de 2005

Maria José

São poucas, infelizmente, as senhores que se notabilizam na actividade política. Ainda menos são aquelas com quem se consegue simpatizar. Como simpatizo com a senhora Maria José Nogueira Pinto, actual Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e destacada militante do CDS/PP, não resisto a citar uma pertinente afirmação feita em entrevista publicada na edição do Público de 14 de Março. Disse a ilustre senhora:

"Em 24 de Abril, bem ou mal, goste-se ou não se goste, Portugal tinha um projecto nacional. E a pergunta que os portugueses fazem é: este país se não é do Minho a Timor, é o quê? Esta resposta ninguém deu. Houve um momento em que o desígnio era fazermos parte da União Europeia; agora é não ficarmos atrás dos países do alargamento."

segunda-feira, 14 de março de 2005

Palminhas

Nós ansiosos por desancar o Governo e para nossa surpresa o Governo a tomar uma decisão que merece aplauso: alguns medicamentos vão ser vendidos fora das farmácias. Parece-nos bem senhor Primeiro Ministro: não perca a embalagem e continue a quebrar monopólios. Como este exemplo nos dá esperança, permitimo-nos sugerir que tenha a audácia e o bom senso de quebrar o monopólio daqueles que adulteram e comercializam a preços exorbitantes o haxixe, a heroína e a cocaína. Vossa excelência já foi jovem, não negou ter provado o famoso charro, sabe que a proibição não impede o consumo, sabe que a procura destas substâncias é eterna, sabe que o argumento da saúde pública que sustenta o proibicionismo é uma hipocrisia. Claro que haverá polícias chocados, claro que a indústria farmacêutica incialmente furiosa, claro que os norte-americanos a pensar que perdemos o juízo, claro que a credulidade da opinião pública - que é ensinada a acreditar que a dependência é uma fatalidade, culpa das drogas e não dos consumidores - poderá levantar protestos e incompreensões. Não é fácil excelência, mas vale a pena tentar mudar o que está mal e que dificilmente pode piorar. Pense no fomento agrícola, pense na criação de empresas, pense na redução da criminalidade e das mortes por envenenamento. Pense que é também uma questão de "direitos humanos". Do nosso direito às drogas. E enquanto medita, fique com um naco de Goethe:

"É uma exigência da Natureza que o homem, de vez em quando, se anestesie sem dormir. Daí o gosto de fumar tabaco, beber aguardente ou fumar ópio."

"Vraiment, je crois qu´une vie entière à lire m´aurait mieux convenu. Une telle vie ne m´a pas été donnée."

domingo, 13 de março de 2005

O 1º absurdo do Governo

O Governo tomou posse, entrou em funções. Faz lembrar uma turma de repetentes ou um depósito de reciclagem, tantos são os ministros que já haviam praticado a arte de governar durante o gueterrismo. Do discurso do 1º ministro retive as suas considerações sobre a política externa. Sócrates prometeu valorizar a nossa condição membro da NATO e prometeu frutuoso entendimento com os EUA. Parece-me sensato: ser aliado do país mais poderoso do planeta é consolador para um país que não conseguiria defender-se sozinho e que precisa de apoios externos. O aborrecido neste assunto é que Sócrates escolheu para chefiar a nossa diplomacia uma pessoa que recentemente escreveu e disse barbaridades sobre os EUA. O senhor Freitas do Amaral, que muda muito de opiniões políticas mas que ainda não foi adepto do nazismo, detesta Bush e comparou a intervenção americana no Iraque com o expansionismo belicista e racista de Hitler. Claro que o professor Freitas tem o direito de ter e de expressar esta opinião, facilitadas que foram pela certeza dos americanos o não incomodarem com um processo por difamação. Por isso, registamos a absurdidade - será talvez filosófica homenagem de Sócrates a Camus - que é confiar o aprofundamento das boas relações com os EUA a um contundente crítico dos EUA.
Claro que esta incongruência não inviabiliza o sucesso da missão do ministro dos Negócios Estrangeiros. Proporciona umas piadas aos americanos, macula a credibilidade do Ministério, mas sabemos que o professor Freitas não se atreverá a voltar a soltar impropérios anti-americanos, sabemos que não vai expulsar à pedrada os americanos da base das Lages, sabemos que não esganará o presidente Bush se com ele se encontrar. O professor Freitas diz dislates mas conhece as regras da etiqueta diplomática. E como sabe adaptar as suas opiniões às conveniências do cargo e aos imperativos dos superiores interesses nacionais que ele declara observar, temos a certeza de que não lhe faltarão amistosas e compreensivas palavras para com a política americana.

sábado, 5 de março de 2005

Camilo e os beijos

Leio as Memórias do Cárcere de Camilo Castelo Branco. O seu envolvimento com uma senhora casada levou-o, em 1861, à cadeia da Relação, no Porto, onde conheceu gente que o superava na infelicidade. Ao dar-nos a conhecer as dificuldades do amor entre o tenente Salazar e a menina Rosa, Camilo declara uma aversão, que por ser tão pouco romântica, merece registo. Eis uma autêntica camilada:

"Sou tão avesso e tenho tamanho asco a beijos, como aquele frade da mesa censória que mandava riscar beijo, e escrever ósculo. Os teólogos casuístas, e nomeadamente Santo Afonso Maria de Ligório, conjuram unânimes contra o beijo, inscrevendo-o no catálogo das desonestidades. Não digo tanto. Entendo que beijo pode ser acto inocente, mas não pode ser nunca limpo e asseado. É um contacto de extrema materialidade, com toda a sua grosseria corpórea."