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quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

Auschwitz

Assinala-se hoje o 60º aniversário da entrada do Exército Vermelho no campo de extermínio de Auschwitz, o mais conhecido exemplo da industrialização da morte nascida do patológico ódio racial do nazismo. Hoje, sobreviventes, chefes de Estado e jornalistas, estiveram na Polónia, homenageando aqueles que morreram e exortando o mundo a uma memória que impossilite o esquecimento e a repetição. Se a homenagem é imperativa aos que morreram e aos que sobreviveram, a promessa de uma concertada e decidida actuação da comunidade internacional impeditiva de novos genocídios é hipócrita ou irrealista: recentemente, perante a passividade internacional, praticaram-se genocídios no Ruanda e na antiga Jugoslávia.
Não me surpreende que os genocídios ainda se pratiquem, já que a muito proclamada consciência universal de defesa e valorização da vida humana é desmentida por muitos daqueles que a berram: Chirac celebra a revolução francesa e a revolução francesa exterminou dezenas de milhares de franceses cujo crime era serem aristocratas; em todo o mundo os comunistas lembram nostalgicamente a revolução russa e a revolução russa cultivou o ódio à burguesia e tentou o seu extermínio. Na França a guilhotina é agora uma peça de museu e actualmente na Rússia a burguesia pode fomentar os seus negócios e adquirir propriedades. Mas as ideologias que matam, que pregam o ódio, que advogam ditaduras, subsistem, são imperecíveis, resistindo à educação e à informação, porque a estupidez humana é infinita e também não é escassa a malignidade do ser humano.
Os nazis estão organizados na Alemanha e nos EUA, e os comunistas actuam livremente em quase todo o mundo. Como estes últimos, incrível e lamentavelmente, ainda contam com a benevolência geral, registo uma ilustrativa citação do jornal Pravda, de 31 de Agosto de 1918, extraída do obrigatório Livro Negro do Comunismo:

"Trabalhadores chegou a hora de aniquilar a burguesia senão sereis aniquilados por ela. As cidades devem ser implacavelmente limpas da putrefacção burguesa. Todos esses senhoras serão fichados e aqueles que representam um perigo para a causa revolucionária serão exterminados. O hino da classe operária será um cântico de ódio e de vingança."

Para quem tiver dificuldade em sentir as essenciais afinidades entre nazismo e comunismo, repete-se o texto, que um qualquer assassino SS terá lido aos seus subordinados:

"Alemães chegou a hora de aniquilar os judeus senão sereis aniquilados por eles. As cidades devem ser implacavelmente limpas da putrefacção judaica. Todos esses senhores serão fichados e aqueles que representam um perigo para a causa nacional socialista serão exterminados. O hino da raça ariana será um cântico de ódio e de vingança."

sábado, 22 de janeiro de 2005

Carlos e Ega

Acabei de ler os Maias cerca de 15 anos depois de ter ignorado a obrigação escolar. O livro agarrou-me, li-o com deleite e alguma sofreguidão. A escrita elegante, a crítica social, o desencanto de que está impregnado, a eterna amizade entre Carlos e Ega, a felicidade morta pela descoberta do incesto, não se esquecem.
Depois de anos sem se verem, os dois amigos dizem:

"Falhámos a vida menino.
Creio que sim...mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Diz-se vou ser assim, porque a beleza está em ser assim. E nunca se é assim, é-se invariavelmente assado, como dizia o pobre marquês. Às vezes melhor, mas sempre diferente."

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

Os cartazes na cidade

Apenas os cegos estão a salvo da poluição visual que se instalou em Lisboa. Os cartazes do marketing partidário chegaram e estão em toda a parte. Nem a alma mais distraída e alheada do meio consegue escapar à omnipresença dos gigantescos cartazes que repetem até à exaustão as caras dos chefes dos principais partidos. Aos desgraçados que mendigam uma moeda para a comida ou para a heroína, juntaram-se Santana e Portas, Sócrates, Louçã e Jerónimo, nos passeios, nas rotundas, plantados na relva, disputando as avenidas e as ruas mais concorridas, para nos mendigarem o voto, o sublime acto de cidadania que é colocar a cruz num quadradinho. Milhares de fotografias e milhares de símbolos para o bom povo não se esquecer e não fazer confusões, cansam, incomodam, são um abuso do espaço público. Ninguém discordará que é desagradável encontrar-se repetidas vezes a cara de alguém que não apreciamos e a quem se daria uma viagem sem regresso para a Coreia do Norte. Está claro que uma caminhada pelo jardim da Estrela prejudicada pela visão sinistra de Louçã diminui a tal qualidade de vida.
A praga, paga com o dinheiro dos contribuintes, faz lembrar o culto da personalidade das ditaduras comunistas e é ilustrativa do que os partidos pensam dos eleitores que querem convencer. Não é com fotografias que me caçam, mas sempre posso confessar que Paulo Portas ficou bem na fotografia: elegante, confiante, optimista, orgulhoso do trabalho feito.

sábado, 15 de janeiro de 2005

O regime

Tenho lido e ouvido opiniões várias sobre a famigerada crise do sistema político que nos governa. Dada a proximidade da brincadeira eleitoral, as opiniões concentram-se ma análise da suposta miséria técnica dos futuros deputados e na miséria moral do seu processo de selecção feito pelos partidos. Nunca se escrevera tão contudentemente contra as práticas dessas pouco recomendáveis organizações. E quem mais as critica são justamente aqueles que acreditando na utilidade da sua acção, engolindo sapos, sem dependerem dos partidos para ganhar a vida, com eles colaboraram, por eles foram eleitos: Pulido Valente, António Barreto, Vicente Jorge Silva. Agora já não têm ilusões sobre a natureza e as realizações dos partidos, embora ainda não declarem desejar a abolição dos partidos que existem e não tenham pachorra para criarem um novo.
Eu posso dar-me por satisfeito por nunca me ter iludido com o regime e com os partidos. Para ter conseguido poupar-me a este desapontamento contribuiu bastante uma visita escolar à Assembleia da República: depois da lengalenga da professora a realidade era um deputado na tribuna a discursar sobre as florestas e as cadeiras dos colegas quase todas vazias, era os outros deputados ausentes e alguns, poucos, a fazerem figura de corpo presente, conversando, lendo os jornais, fazendo uma sesta. Aquilo tudo a lembrar-me a sala de aulas e eram os "representantes do povo" em todo o seu quotidiano esplendor de absentismo e desinteresse.
O regime, que nascera de maneira exemplarmente desastrada, cheio de ódio, reduzindo com altivez Portugal a um pequeno e muito dependente país, arruinando uma economia em crescimento vigoroso em nome da absurda prosperidade e bondade do socialismo, sustentava afinal o provérbio: quem nasce torto jamais se endireita. E de facto, o regime não se reformará enquanto os seus actuais protagonistas se alternarem no exercício impune da demagogia e da irresponsabilidade.
Enquanto PSD e PS obtiverem juntos cerca de 80% dos votos, não há que esperar do regime no futuro o que nunca ou apenas rara e acidentalmente ofereceu no passado. Haverá que pensar em substituí-lo ou continuar a aturá-lo.
Importa reconhecer que o regime, medíocre mas não completamente tolo, se esmera por ser duradouramente suportável, por força daquilo que consegue produzir e daquilo que entende tolerar: podemos criticá-lo com indignação e ironia, podemos atacar ou gozar os funcionários públicos que são bem pagos sem atrasos, graças à UE podemos receber um oportuno subsídio, temos centros comerciais com fartura, temos auto-estradas em toda a parte, temos recurso fácil ao crédito que oferece o consumo que contenta a alma, temos o euro que nos faz sentir europeus a sério, temos estatísticas que podemos orgulhosamente comparar com as dos desgraçados países africanos, temos imponentes obras públicas para admirar, temos a estudantada ignorante feliz por se licenciar, temos os comerciantes e os profissionais liberais contentes por praticamente não pagarem impostos, temos milhares de milagrosas empresas que nunca tiverem lucros e que continuam activas, e ainda temos as delícias do lixo televisivo e da paixão do futebol. Com tanto que temos, claro que nos podemos dar ao luxo de também ter uma classe política que não é mentalmente diferente da maioria acomodada que por hábito, sem a esperança de apreciáveis melhoras colectivas, a vai tediosamente elegendo, escudada na esfarrapada e inexacta alegação da falta de alternativa ao vigente. Na verdade, para ocupar e exercer o Poder há sempre alternativa: os militares e os milionários sabem-no.

domingo, 9 de janeiro de 2005

Despertar

Este blogue acaba de sacudir a letargia em que mergulhara. Despertou para a comunicação graças à vitória do Sporting sobre o Benfica. Se o autor não se mudar para o cemitério dos Prazeres, abundarão os textos fúteis e superficais: promessa de português educado pela democracia e abandonado pela fé.