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quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Prémios Arquivista 2004 / III

Vamos hoje tentar atribuir mais alguns prémios. Entendemos que a nossa virtuosa classe política, em virtude das implicações colectivas da sua actividade, merece a exclusividade nesta sessão.
Importa dizer que são premiados indivíduos e organizações: lembrando La Palisse, estas não passam sem aqueles.

Prémio que ironia divertida somos o partido mais rico e mais lucrativo de Portugal: PCP

Prémio o nosso marketing banha da cobra funciona às mil maravilhas:
Bloco de Esquerda

Prémio é sem intenção que fazemos tantos disparates quando somos Governo: PS

Prémio parecemos um albergue espanhol: PSD

Prémio que seria de nós sem o Paulo Portas: CDS/PP

Prémio entendam que se não fizesse o que fiz perderia os meus amigos do Partido: Jorge Sampaio

Prémio posso emprestar inimigos a quem precisar: Santana Lopes

Prémio ai que máximo vou ser o 1º ministro mais charmoso de sempre: José Sócrates.

Prémio adorei modernizar a tropa e se continuasse a Virgem faria o milagre de um porta-aviões: Paulo Portas

Prémio incrível gosto do Lenin, do Trostky, do Mao, do Che, e sou democrata imaculado: Francisco Louçã.

Prémio tenho tentado tudo mas não consigo ser expulso: Pacheco Pereira.

Prémio se me chamarem salvador e implorarem até me candidato: Cavaco Silva.

Prémio se voltar a ser ministro é provável que volte a ruir qualquer coisa: Jorge Coelho.

Prémio se eu fosse para o continente a esquerda piaria mais fino: Alberto João Jardim.

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

Os guerreiros de Guimarães

Guimarães tem um centro histórico bonito e admiravelmente restaurado. Tem doçaria que é uma pena não comer todos os dias. A sua população tem muita juventude: os minhotos, que parecem ser os portugueses que mais praticam os rituais do catolicismo, casam e procriam com facilidade. Em Guimarães não falta o espírito empreendedor que possibilita iniciativas empresariais, está enraízado o sentimento de propriedade e o orgulho de se ser vimaranense.
Os vimaranenses são sentimentais, e às vezes exaltam-se por dá aquela palha. Ontem, aconteceu no estádio. Os vitorianos gostam muito do seu Vitória mas não gostam genuinamente de futebol já que são incapazes de aplaudir adversários superiores. Ontem o Vitória começou melhor mas o Sporting deu a volta. Resultado: os vitorianos perderam as estribeiras e soltaram a sua animalidade. Pelas imagens da TV deu para perceber que a fúria geral não poupou estratos sociais e culturais. O engenheiro e o carpinteiro, o empresário e o estudante, iguais na raiva: tendo a prostituição tanta clientela no Minho, apenas surpreende que hipócrita e injustamente teimem no eterno filho da puta. E o estádio em revolta lá berrou vezes sem conta o filho da puta ao árbitro, o filho da puta aos dirigentes e jogadores do Sporting, elevados a inimigos odiosos. Claro que estes incontáveis crimes semi-públicos os não saciaram. Da violência verbal, passaram às agressões possíveis. Cobardemente, arremessaram cadeiras, isqueiros, garrafas.
Parece tacitamente instituído que os estádios de futebol são os espaços para a impune expressão da violência tribal. Como as autoridades policiais só raramente distribuem bastonadas, como os desordeiros não são impedidos de entrar nos estádios e não pagam multas, a coisa vai continuar a repetir-se. Em Guimarães, no Porto, onde calhar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Prémios Arquivista 2004 / II

Hoje os premiados são colectivos: vão ser distinguidos importantes grupos profissionais, alguns dos quais parcialmente responsáveis pelo notável funcionamento de relevantes serviços públicos.
A todos os que sentirem injustamente excluídos rogamos que aceitem um sincero pedido de desculpas: a nossa memória não é de elefante.

Prémio estamos inocentes, a culpa é do legislador: Juízes e magistrados.

Prémio humilhados pelos concursos e boicotados pelos alunos, continuamos a fingir que sabemos ensinar: Professores.
Prémio já que não podemos esbofetear delinquentes queremos que nos ajudem a inventar mais gratificações: Polícias.

Prémio os eleitores não nos conhecem e não nos ligam patavina mas continuem a votar que a gente fica muito orgulhosa: Deputados.

Prémio trabalhamos tanto e somos tão mal pagos que merecemos um aumento salarial de 35%: Deputados.

Prémio milagre não nos privatizaram nem extinguiram: Jornalistas da RTP1.

Prémio suspeitamos que querem deliberadamente que sejamos poucos: Inspectores da PJ.

Prémio adoramos viajar e prescrever medicamentos e ouvir os nossos doentes tão ignorantes coitadinhos: Médicos.

Prémio depender dos subsídios estatais para fazer teatro não é parasitismo é arte sublime merecidamente apoiada: Encenadores.

Prémio ai somos tão criativos e tão chiques e as nossas roupinhas só custam uma bagatela: Estilistas.

Prémio acreditem que mentir é uma arte muito respeitável e exigente: Advogados.

domingo, 19 de dezembro de 2004

Prémios Arquivista 2004 / I

Apesar da falta de originalidade da iniciativa, este blogue, imbuído de imensa generosidade natalícia, decidiu promover a entrega de prémios aos portugueses que por diferentes motivos mais se destacaram no desempenho das suas actividades durante o corrente ano.
Dada a extensão da lista, em permanente actualização, a divulgação dos premiados continuará nos próximos dias. Não se julga pertinente anunciar os critérios adoptados nem justificar as escolhas.
Importa referir que o prémio seria monetário se um pouco respeitável patrocinador não tivesse rompido o acordo que se julgava de cavalheiros. Agora, a materialização do nosso reconhecimento está dependente da concessão de um subsídio estatal ao nosso indigente e talentoso escultor.

Prémio seus invejosos eu sou mesmo o melhor treinador do mundo e arredores: José Mourinho

Prémio fartei-me de estágios, prefiro estar com a família mas voltarei para jogar no mundial: Luís Figo

Prémio milagre gosto do pinochet e não fui despedido: Filipe Scolari

Prémio não sou presidente da escória das claques que querem que eu vá para casa fazer paciências: Dias da Cunha

Prémio agora que já não é preciso dar prendas aos árbitros é que me levam a tribunal: Pinto da Costa

Prémio se eu estivesse na república das bananas da guiné não haveria aborrecidos apitos dourados: Valentim Loureiro

Prémio apesar dos maus resultados, seus mentirosos, eu nunca erro e nunca me engano: José Peseiro

Os premiados do futebol estão conhecidos. Haverá muitos mais.

sábado, 18 de dezembro de 2004

Carta ao Pai Natal

Pai Natal

Espero que não te incomodes por te tratar por tu. Como mais vale tarde que nunca, creio ser esta a primeira vez que me dirijo a ti com verdadeira intensidade e esperança. Sei que existes. Tenho-te visto em variados locais: nas ruas de Lisboa, nos centros comerciais, nas televisões. Ao contrário de uma outra entidade, muitas vezes representada com barbas iguais às tuas, que prima pela ausência e que o bom cineasta César apelidou de obscuro, tu pareces realmente omnipresente. Portanto, confio em ti, acredito na tua eficácia e atrevo-me a fazer-te revelações que nem às paredes confessei.
Este ano, Pai Natal, foi talvez o mais complicado da minha existência. Faço-te um resumo para que me acredites: inventei uma doença potencialmente devastadora ( que entretanto já engavetei ); profissionalmente não fui excelente; a namorada, em vez me insensatamente me dizer ai és o homem da minha vida, saturou-se e despediu-me pelo telefone; estive poucas vezes com os meus amigos, que estupidamente teimo em quase nunca procurar; o Sporting deu-me desgostos sucessivos; e para cúmulo, parece que os incompetentes do PS se preparam para voltar a fazer sérios estragos ao país.
Concordarás que tudo isto não é pouco. Não recuso responsabilidades, mas sinto-me no direito de te pedir múltiplas prendinhas. Nos dias que correm, a famosa frase do excessivo Descartes evoluiu mais ou menos para isto: consumo, logo existo. E eu, como verificas, existo, e quero consumir bens materiais.
Segue-se a lista que sei que não perderás. Começo pelos livros. São para mim oxigénio Pai Natal. Sem eles, qual bibliófago, definharia. Muito me agradaria, pois, receber o último romance do Lobo Antunes, a reedição das entrevistas de António Ferro a Salazar, as Novelas de Tchékov, as Farpas do Eça e do Ramalho, as Noites na Granja do Gógol, o Wilt em parte incerta do Sharpe e o último livro publicado do Gore Vidal. Se os conheces, entenderás as escolhas. Como sabes, Pai Natal, nem só de livros vive o homem. E assim, do pé para a mão, ocorrem-me outras necessidades: cortinados e uma estante castanhos para o meu quarto; perfumes, cuja marcas ficam à tua sábia escolha, para encantar olfactos femininos; óculos de sol que me caíam bem que os actuais ainda prestáveis mas já cansados. E para acabar, porque não me sinto capaz de o fazer, agradecia, Pai Natal, um telefone com aquela tecnologia que permite as fotografias, para estar mais próximo das pessoas que me fazem alguma falta e de quem estou separado pela geografia.
Creio que satisfarás com alegria e sem dificuldade estes pedidos. Sou razoável, não peço mercedes, nem quintas no Alentejo, nem uma namorada inteligente e bonita e generosa, nem férias na Gronelândia a almoçar com os ursos polares que são lindos. O que peço poderás, se quiseres, colocar ali junto à arvore de natal de plástico que o R. comprou e que parece ser capaz de durar uma carrada de Natais. Pai Natal, conto contigo. Não me desapontes e tem saúde.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

O pesadelo Peseiro

Vou finalmente escrever sobre o futebol do Sporting, que desde a infância tem importância na minha vida, provando assim a minha elementar masculinidade:). Eu sou capaz de faltar a aniversários de amigos, sou capaz de antecipar regressos a Lisboa, sou capaz de recusar cinemas e museus, para assistir no estádio aos jogos do Sporting. Quando joga o Sporting, durante 2 horas o mundo suspende-se, o mundo é o Sporting.
Ontem quase dormi a ver o Sporting. Aborreci-me. Em vez de me excitar como seria desejável, senti o apetite a desvanecer-se de tal maneira que eu, que quase sempre festejo os golos desvairadamente, pulando, berrando, abraçando desconhecidos, ontem nem me mexi quando o Sporting marcou. Ontem o jogo do Sporting foi tão fraquinho e desmotivante que o meu sportinguismo se anestesiou. Ora, isto ofende-me. A força e o fascínio de se ser de um clube radicam nos estímulos e sensações que ele nos provoca quando joga. Sendo esta situação de indiferença pelo jogo contraproducente e até grotesca, há que identificar os culpados dela. Não é tarefa difícil. Claro que os jogadores pouco se aplicaram ontem, passearam a sua lentidão, parecendo estar contrariados no relvado. Tendo os jogadores culpas porque são responsáveis pelo que fazem e pelo que não fazem, os maiores culpados são, contudo, evidentemente, o treinador, o senhor Peseiro, e aqueles que o contrataram e teimosamente o não despedem. O meu pai chamou energúmeno a Peseiro e quem sou eu para desmentir o meu pai. O homem chegou em Julho ao clube e disse que queria ganhar tudo: coisa que nem Mourinho fez no FCPorto. Reconhece que os jogadores aqui e ali se distrairam, que falharam, que economizaram esforço ou desprezaram o adversário, mas está sempre muito contente com eles: um jogador que este ano se tem arrastado em campo sugeriu-lhe, no momento da sua tardia substituição, a prática homossexual da sodomia, e o treinador, que parece apreciar sugestões intimas, manteve-o titular. Qualquer pessoa que sabe o minímo de futebol sabe que os jogadores devem jogar nas suas posições: Peseiro acha que não e mesmo não precisando porque não faltam jogadores no plantel, decide inventar colocando defesas no meio campo e jogadores do meio campo na defesa. Isto tem dado, como seria de esperar, repetidos maus resultados, mas o homem teima, perseverando orgulhosamente no erro e queixando-se juvenilmente das críticas.
Poderia continuar até à exaustão, mas vou ficar por aqui. Sei que vamos ter que aturar a incompetência do homem até ao fim da época. Os dirigentes dirão que confiam nele, que ele está à altura, e etc e tal. No fim, confrontados com mais uma época de zero títulos, farão o que fizeram ao anterior treinador, o engenheiro Santos: desculpe mas o senhor não tem condições para continuar. Como irresponsáveis que são, os dirigentes não se demitirão. Os seus erros gozam de impunidade. É um clube português, demasiado português, o meu adorado Sporting.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

Obrigado Soares

Doutor Mário Soares,escrevo para o cumprimentar pelas 80 primaveras e para lhe agradecer os serviços prestados à Pátria e à humanidade. Li-o numa recente entrevista confessar que a sua intervenção política foi provocada pela frustração literária. Teremos perdido ficção de qualidade, mas as realidades que as suas decisões ajudaram a criar são memoráveis e muitos livros hão-de gerar.
São múltiplos os imperativos agradecimentos ao seu comportamento público. Os timorenses agradecem-lhe ter considerado que Timor Leste nada tinha a ver com Portugal e tinha tudo a ver com a Indonésia; os guinienses que serviram as forças armadas portugueses e que foram fuzilados pelo seu amigo Nino Vieira agradecem-lhe o seu compreensível silêncio, os angolanos e os moçambicanos massacrados pela pobreza e pelas destruições das guerras civis agradecem-lhe a intervenção que vossa excelência teve na exemplar descolonização, a diplomacia portuguesa agradece-lhe as ofensas que teve a coragem de dirigir ao abominável Bush.
Os agradecimentos poderiam continuar, já que vossa excelência é ilimitadamente apludível e admirável.Mas, fazendo um esforço, fico-me por aqui, desejando que a sua lucidez dure até aos 100 anos.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

Deputados e ensino

Aviso aos eventuais leitores:segue-se um texto palavroso, com alguns números. Estava entretido com papéis, cópias do Diário do Governo, excertos de relatórios do Tribunal de Contas, instituição meritória cujo exemplar site vivamente recomendo porque está pleno de informação que interessa a quem se interessa pela comunidade e a quem se importa com o funcionamento da máquina estatal. E graças ao TC fiquei a saber que os senhores deputados, nossos conscienciosos representantes, utilizam os transportes públicos, porque, os 57.451 euros "pagos aos deputados, referentes ao passe social para a cidade de Lisboa, não estão suportados pelos correspondentes comprovativos da aquisição", esquecimento que se entende porque não custa imaginar os nossos dedicados deputados correndo para não perderem o autocarro que os levará ao templo do serviço público que é a Assembleia da República. Isto anima-me a não deixar de utilizar a Carris e faz-me desejar a felicidade de encontrar um deputado no autocarro, eu e ele sentados lado a lado, aprazivelmente debatendo a situação da ditosa Pátria.
Continuando com assuntos públicos, mergulho no passado, que é coisa que me vicia. Como estou a reunir legislação,encontrei os Decretos-Lei n. 38 968 e 38.969, de 27 de Outubro de 1952, que instituem a obrigatoriedade da instrução primária e regulam o Plano de Educação Popular, são antecedidos de um imperdível relatório sobre a situação do ensino em Portugal.
O relatório é um dos muitos exemplos da facilidade com que se podem desmentir as invenções historiográficas fundadas em motivos como a inveja ou a ignorância da obra realizada, o facciosismo ideológico, a antipatia ou o rancor pessoal, a desonestidade intelectual.
Como se sabe, vulgarizou-se em Portugal o seguinte: a I República promoveu empenhadamente a educação dos portugueses e o Estado Novo cultivou a ignorância dos portugueses. Eu reproduzo alguns números do relatório: em 1911 a taxa de analfabetismo das crianças entre os 7 e os 11 anos era de 79,4%, em 1930 de 73,1% e em 1950 era de 20,3%; no ano lectivo de 1925-26, o último da I República, eram 8.484 as escolas e os agentes de ensino existentes e no ano de 1952 estes eram 15.662; em 1925-26 havia 316.888 alunos matriculados no ensino oficial, em 1952 eram 626.107 as crianças matriculadas.
Fico por aqui, para poupar enfados. Quem tiver lido que interprete como entender. Certo é que se é fácil distorcer a História, também não é difícil avançar com os argumentos quantitativos que invalidam as ficções e as mentiras.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

Do dicionário

As eleições, que são o esperado favor de Sampaio aos seus camaradas, aproximam-se. A abstenção tem sido, nos últimos anos, compreensivelmente elevada: em 1991 foi de 32,2%, em 1995 de 33,7%, em 1999 de 38,9% e em 2002 de 38,5%. Mais de um terço dos eleitores tem optado por não alinhar naquilo que Mussolini considerava a "arte de fazer crer ao povo que é ele que manda". Porque os partidos ultimam estratégias, escolhem candidatos, elaboram programas e preparam o circo propagandístico, parece-me oportuno transcrever duas definições constantes do Dicionário Político do Ocidente, indispensável obra editada em 1979, da autoria do professor António Marques Bessa, que teve a colaboração de Adriano Moreira, Borges de Macedo, Jaime Nogueira Pinto e José Miguel Júdice.

Partidocracia - Etimologicamente, designa o governo dos partidos, ou seja, um regime político baseado nestes aparelhos. A partidocracia é, para muitos autores, um sinónimo de sistema político moderno e uma organização típica das democracias industriais. A distribuição real do poder, em vez de obedecer às instituições consagradas na Constituição, resulta antes dos acordos entre os partidos.
Efectivamente, nestes Estados, só os partidos cosntituídos podem competir pelo poder político, estando a selecção da classe política assegurada pela concorrência eleitoral entre eles. O poder está monopolizado por estas formações e resulta extremamente dificil romper tal situação. É virtualmente impossível a um cidadão ou grupo político encontrar expressão ou possibilidades de vitória na corrida para o poder, sem se integrar ou estar apoiado por qualquer uma das máquinas partidárias do sistema constituído.

Partido - Organização ideológica que tem por objectivo conquistar ou participar no exercício do poder político. É o instrumento clássico da luta política, sobre que assenta a estratégia de assalto ao comando do Estado. O estudo da sua estrutura demonstrou que todos os partidos são governados por uma oligarquia, que os dirige e manipula à sua vontade, sem que os eleitores possam interferir significativamente. É, portanto,um aparelho sob controle e propriedade de uns quantos indivíduos.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

O Jardim

Para os botânicos, floristas, jardineiros, guardas florestais, engenheiros agrónomos, apreciadores da natureza, um poema, a letra de uma canção, escrito por um jurista do Ministério do Ambiente que também é músico. Falta-lhe a beleza do acompanhamento do piano, mas este é um blog muito imperfeito e o cd está disponível no mercado.


O Jardim

Há tanto tempo que não me ocupo do jardim
A última vez estava frondoso
A buganvília a tingir-se de vermelho
Trepando O perfume inebriante
E as festas ao cair da tarde
Parece que foram há séculos
Noutra encarnação
Os meus amigos traziam as bebidas
E a jovialidade
O jardim enchia-se de gente
De beijos
Pelos cantos sôfregos de desejo

Inventavamos planos de rebelião
Sonhos de transmutação
Passavamos horas a inventar
Entre duas carícias
Surgiam ideias puras e inocentes
Como a nossa vontade de tudo abarcar
Era um frenesim constante
Faz-me pena agora
Olhar para ele
Para as suas sebes abandonadas
De ramos retorcidos
Jaz tombada a grande epícea
E uma enorme cratera
Substitui os belos canteiros de outrora

Há tanto tempo que não me ocupo do jardim

Adolfo Luxúria Canibal, Primavera de Destroços

sábado, 4 de dezembro de 2004

António

Ontem matei saudades do António Variações e recuei à minha infância. Excertos de entrevistas, pedaços de actuações na televisão, o espólio fotográfico. Eu com 7, 8 anos, espantado com aquela pessoa que se vestia estranhamente e que cantava músicas impossíveis de não serem apreciadas.António dar o direito a toda a voz esse respito que queremos para nós, acho que me ensinaste a tolerância, acho que aprendi a gostar de música contigo, estou agora a ouvir-te e menino que voz tinhas, esse insinuante dar e receber, esse provocador há uma noite para passar que convida à aventura dos sentidos. Ontem os que te conheceram e trabalharam contigo disseram que ao talento juntavas a coragem e a modéstia. E também a gratidão, que dedicaste uma canção à tua mãe que tem o seu nome. António, vou ouvir-te sempre.