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segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Cobarde

Estava na cama entretido com um artigo sobre a criminalidade em Portugal no fim do século XIX. Uma amiga bateu à porta para lhe emprestasse o isqueiro. Sentou-se na cama, fumou e falámos. Depois deixei-a a espreitar a biblioteca e fui tratar da ceia. Despediu-se com secura batendo a porta com desnecessário vigor. Minutos depois lamentava atravês de mensagem telefónica já não existirem homens como antigamente e acusava-me de ser um cobarde. Isto fez-me lembrar a virtude de saber perder. O Sporting, a morte e os meus erros têm sido os melhores professores sobre a matéria. Perder é uma inevitabilidade. Perdemos dinheiro em consumos supérfluos, perdemos as amizades que não duram para sempre, perdemos os familiares que nasceram antes de nós, perdemos o sentimento que nos faz perder as companheiras, perdemos oportunidades de sensatos silêncios, perdemos negócios porque o concorrente tem melhor currículo. Continuar seria fastidioso: todos os dias perdemos algo. A mulher em questão, que conheço há muito anos e que talvez esperasse que a convidasse a deitar-se, que talvez esperasse dizer-me tem a amabilidade de me despir e de entrar em mim, perdeu, mais do que algum prazer carnal, a ocasião de compreender e aceitar sem azedume que ter um corpo atraente não garante automaticamente o sexo.

sábado, 27 de novembro de 2004

Pequena apologia das mulheres

Parece que este blog é lido essencialmente por meninas e senhoras, o que me apraz e envaidece: é público sensível e generoso. Permito-me uma pequena apologia da mulher. Lembro que são as mulheres as menos insensíveis à miséria alheia, são aquelas que mais ajudam os infortunados que ganham a vida no metropolitano repetindo milhares de vezes quem tem a bondade e a possibilidade de me auxiliar e todos têm a possiblidade mas poucos a bondade; são as mulheres que estão em maioria nas associações não governamentais, são as mulheres enquanto mães as pessoas capazes de se preocuparem mais com os filhos do que consigo próprias. São as mulheres as melhores conhecedoras do altruísmo e da capacidade de sacrifício. Sofrem porque amam e honram deveres e compromissos, como a minha linda avó, que durante mais de 3 anos diariamente velou pelo meu avô massacrado por uma doença neurológica devastadora, me revelou de uma forma que sei que nunca vou esquecer.
Os exemplos poderiam multiplicar-se. São também as mulheres as principais vítimas da violência doméstica, feita de agressões físicas, de ameaças, de insultos. A APAV, uma instituição de efectiva utilidade pública, cujo site acabei de conhecer, tem as lamentáveis estatísticas do assunto disponíveis para consulta.
As mulheres casadas ou vivendo em união de facto, com idades entre os 36 e os 45 anos constituem o grupo de maior risco. São mães e ganham o seu salário, estão no apogeu da suas faculdades intelectuais, atingiram a maturidade comportamental, e em casa convivem com animais falantes. Ou seja, há um número significativo de homens que além de sexualmente inepto ou pouco atencioso, que além de incapaz de proporcionar prazer e de produzir alegrias, ainda se esmera em gerar sofrimento. Eu meti-os na prisão ou mandava-os para Cuba.

terça-feira, 23 de novembro de 2004

O fracasso do macho português

É uma miséria que talvez alegre advogados e detectives. A miséria é esta: apenas uma pequena minoria das mulheres portuguesas, cerca de 15% segundo um inquério referido pela revista Pública, atinge regularmente o orgasmo. Este número não iliba as mulheres e envergonha os homens portugueses, que, curiosamente, em matéria sexual possuem elevada auto-confiança. Tomam-se por competentes garanhões e afinal as suas companheiras, à volta de 50% das inquiridas, para os não desiludirem simulam o orgasmo.
Se os homens obtusamente ignoram o elementar princípio do prazer que recomenda o orgasmo feminino em primeiro lugar, as mulheres têm também a sua responsabilidade neste comprometedor fiasco. Não atingirem o orgasmo mais parece castigo pela inércia que os números sugerem. Ensinar não ofende, sugerir menos ainda. Em vez de um instrutivo querido tenha a gentileza de beijar-me vagarosamente o corpo todo, querido não se apresse vamos durar, as mulheres parecem lamentar em silêncio que os seus companheiros não façam o que desejam. Homens de Portugal, que sois uma lástima, aprendei e emendai-vos, acabai com as frustrações que devastam o equilíbrio emocional das mulheres. :)

sábado, 20 de novembro de 2004

Tédio ???

Às vezes acontece-me ouvir e ler pessoas dizerem ai que aborrecimento, ai que não se faz nada, estou aqui a passar o tempo. Isto causa-me estranheza e até algum pasmo. Hoje, no campo do aproveitamento do ócio, a oferta é virtualmente ilimitada : basta escolher, ter curiosidade, decidir uma navegação electrónica. Não falta informação para assimilar, conhecimento a produzir, entretenimento para distrair. E muitas pessoas sofrem de tédio, o tal tédio que Schopenhauer dizia ser primordial fonte de sociabilidade : as pessoas preferem aborrecer-se acompanhadas que sozinhas.Eu, que como qualquer outra pessoa, sofro todos os dias, nunca me aborreço.Proibi-me tal obscenidade que insulta a vida. Observo a biblioteca - pequena vaidade patrimonial - e olá Lobo Antunes, viva Gore Vidal e Montaigne e Camus e Salazar e Tchékhov e Junger e Pulido Valente e Ballester e Filomena Mónica e Camilo, obrigado por me impedirem a tentação do tédio.

quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Portas

Acabei de ouvir o discurso do ministro Paulo Portas, a encerrar a discussão na generalidade sobre o orçamento de estado para 2005. Quando quer, quando não invoca a Virgem para resolver isto ou evitar aquilo, Portas é brilhante. Defendeu com clareza e elegância o que tinha a defender, arrasou a inépcia do PS e devastou a incoerência do engenheiro Sócrates. Cheira-me que em 2006 não poderá haver lugar para neutralidades e abstenções: prioritário impedir o regresso ao poder daqueles que o exerceram tão mal.

sábado, 13 de novembro de 2004

Morte

Acho que foi Filipe Gonzalez que disse, quando lhe perguntaram se abrira uma garrafa de champanhe para festejar a morte de Franco, que a morte de quem quer que seja não se festeja. Parece-me afirmação de validade universal. Mas se as mortes não se festejam, também não faltam mortes que não se lamentam, como a de Arafat. Talvez agora as contas bancárias de Arafat tenham finalmente aplicação produtiva para os palestinianos que o adoram e choram.

quarta-feira, 10 de novembro de 2004

Muro de Berlim e o PCP

Foi há 15 anos e lembro-me com nitidez do que senti. Há 15 anos vimos a merecida felicidade dos berlinenses em directo, longamente divididos pela guerra fria, empobrecidos pela penúria e aprisionados por proibições, perseguições e invenções ideológicas. Estava em casa,acompanhado pelo meu amigo R., então ainda militante da JCP. Eu supreendido e eufórico por assistir à derrota do sistema comunista; o R. triste e estupefacto, a culpar o patrão da URSS pelo descalabro.
A próxima alegria neste campo será o fim da importância política do PCP, a sua quase extinção, coisa que não deverá tardar mais de 10 anos atendendo à faixa etária de parte significativa do eleitorado comunista. O PCP, que lamentou a queda do muro e a reunificação alemã, que sempre obedeceu às ordens da URRS e que foi por ela fartamente financiado, provocou em 1974 e 1975 incomensuráveis danos a Portugal e aos portugueses : sendo um inimigo das liberdades, não faz falta à nossa empobrecida democracia.