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sexta-feira, 29 de setembro de 2006

O sótão da Leonor

Ontem tive a alegria de encontrar perto do Chiado dois tesouros que não abundam e cuja venda avulsa só é possível em alfarrabistas. A Leonor, que continuou o negócio do seu pai, que com o tempo aprenderá a conhecê-lo bem, anotou o que eu procurava e subiu com diligência ao sótão. Depois de fumar um cigarro, não resisti à tentação de o espreitar: apertado, poirento, soalhado e com as paredes forradas de estantes repletas de alimento para bibliófilos e bibliófagos, o sótão encantou-me. Tanto que logo informei a Leonor: a senhora terá a gentileza de em breve me deixar ficar por aqui uma ou duas horas. A Leonor, como não dispõe de qualquer catálogo, ainda não conhece toda a matéria-prima que possui e que entusiasma malucos como eu. O que a não impediu de localizar dois dos volumes dos Dez Anos de Política Externa que desejava. Por 15 euros a Leonor garantiu-me muitas horas de deleite. E ganhou um cliente.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

Quase falei a D.Duarte

É esta timidez em abordar desconhecidos que explica que ontem, em Santa Apolónia, junto às bilheteiras, não tenha perguntado a sua Alteza Real se ainda tem a esperança de algum dia vir a ser coroado rei de Portugal. O senhor D. Duarte, que tem presença física, que sabe aprumar-se, que usava óculos escuros para evitar ser reconhecido e evitar a improvável trabalheira de beijinhos e autógrafos aos súbditos, que comprou um exemplar da revista Cais, preparava-se para viajar sozinho. O herdeiro do trono sem um secretário, sem um conselheiro, sem um amigo, sem um dos filhos, sem ninguém na estação para lhe dizer adeus boa viagem. Como se aquela banal solidão mostrasse a impossível ressurreição da monarquia.

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Atlântico

A revista não me encomendou o sermão, não me pagou a divulgação. Coisa de que não carece. Como quando gosto, gosto a valer, impõe-se o que se segue. A revista chama-se Atlântico e é a melhor revista que por cá se publica. A publicidade rareia, os textos com qualidade literária e de pertinente temática não faltam. A Atlântico é escrita por pessoas qualificadas, a quem não faltam conhecimentos e discernimento analítico: entre outros, lembro Rui Ramos, Vasco Rato, Fátima Bonifácio, Pereira Coutinho, Filomena Mónica. A Atlântico proporciona leituras prazenteiras e úteis, mas não é, nem poderia ser, uma revista perfeita. Sendo rapidamente devorada, a Atlântico castiga o leitor publicando-se apenas mensalmente. Enquanto não acaba com esta injustiça e evolui para a ideal edição quinzenal, a Atlântico estará a partir de quinta-feira à disposição do freguês.

English supporter for a day

Hoje houve duplo confronto luso-britânico na milionária Champions League. O Porto jogava com o Arsenal e o Benfica com o Manchester United. Nem precisava de lembrar o auxílio inglês a Portugal durante as invasões franceses. Bastaria lembrar que foram os ingleses que inventaram o futebol. Bastaria ter presente que o futebol inglês é o mais empolgante, o mais honesto e o mais responsável: estádios cheios de adeptos vibrantes, jogadores 100% profissionais que procuram marcar golos, que não simulam faltas, que não insultam árbitros; dirigentes que não telefonam a árbitros e que não se esquecem de pagar os salários; dirigentes que sabem evitar o clubitismo doentio e que punem exemplarmente os jogadores que prevaricam com gravidade. O futebol inglês é uma indústria que apaixona quem a vive, é uma indústria civilizada e lucrativa.
Do outro lado, estavam os representantes de um diferente tipo de indústria futebolística. Uma indústria que acumula prejuízos e escandâlos. Uma indústria que tem praticantes de qualidade, mas cujos principais protagonistas são, há mais de 20 anos, os dirigentes: que se aliam e desavindam, que se insultam e se abraçam; que nunca se cansam de mostrar a sua brejeirice, a sua ignorância, o seu facciosismo. Dirigentes que raramente sabem perder. Que gastam o que têm e o que não têm. Dirigentes que manipulam adeptos. Que culpam jornalistas e oferecem prendas a árbitros. Que exorbitam os preços dos bilhetes. Que não arredam pé e que não têm vergonha. E que sabem que contam com a conivência cobarde do poder político e com a passividade ou a impotência do poder judicial. Estarem os estádios vazios não surpreende. É um acto de justiça. O único que nos é possível, por agora. As excepções a este panorama - Sporting, Belenenses, por exemplo - são andorinhas que não fazem a primavera.
E com esta divagação, já quase me esquecia dos resultados de hoje: os ingleses ganharam os dois jogos: fair enough!

Sugestão aos e às navegantes

Antes de continuar a leitura deste blogue não esqueça que a informação é um recurso infinito e muito valioso, cujo consumo deve ser ponderadamente seleccionado.

domingo, 24 de setembro de 2006

Iberismo em marcha

A notícia surpreendeu-me. O jornal Sol publicou uma sondagem na qual quase 30% dos entrevistados se declararam a favor da união ibérica, a favor da integração de Portugal no Reino de Espanha. Não esperava que esta disposição iberista fosse tão elevada. Mas, como a Espanha, que alguns dizem estar em processo de desintegração graças à autonomia cada vez maior da Catalunha e à disparatada decisão do Governo em negociar com os terroristas da ETA, respeita e assimila as diferentes culturas regionais que a compõem; como a Espanha estabeleceu a democracia pluripartidária não em resultado de uma revolução socialista histérica e destrutiva, mas através de uma equilibrada transição que não lesou a economia; como a Espanha tem administrações públicas competentes, que não tratam os cidadãos como crianças ou criminosos; como em Espanha os ordenados são maiores e os impostos menores; como em Espanha o património histórico e natural são geradores de orgulho e de receitas; como em Espanha as empresas se lançam com arrojo à conquista dos mercados mundiais; como em Espanha as pessoas sabem socializar-se com alegria, compreende-se esta crescente inclinação iberista: os portugueses viveriam melhor se fossem cidadãos espanhóis.
Triste é a constituição da República Portuguesa - jamais referendada pelos portugueses - não autorizar a existência de movimentos cívicos iberistas e não permitir que se possa pacificamente votar a questão, condicionando o exercício das liberdades políticas à aceitação da "independência" deste quase irrelevante rectângulo. Aqueles que ocupam hoje o poder, apesar de já não ideologicamente imbecilizados como em 1974/1975, apesar de mais realistas, apesar da soberania diminuída pela União Europeia, teimam em não vencer o tabu e continuam com a constitucional proibição iberista. O apego aos tachos é maior que a afeição "democrática".

Quantos mais eslavos melhor

Ontem fiquei a saber que os filhos dos imigrantes da Europa de leste a viver em Portugal, obrigados por lei a frequentar as escolas do nosso ministério da deseducação, conseguiram encontrar uma solução destinada a superar a "menor exigência" do sistema de ensino português: têm uma escola no Restelo, reconhecida pelas autoridades de Moscovo e não reconhecida pelas autoridades de Lisboa, onde, para além da sua Língua e da sua História, aprendem tudo aquilo que aqui é tardia ou medíocremente ensinado, ou não é ensinado de todo.
Esta gente é inteligente, trabalhadora e afável. A sua presença beneficia o País. Se pudéssmos enviar magotes de portugueses para a Ucrânia e para a Rússia, com a respectiva compensação em ucranianos e russos, daríamos um eficaz pontapé na estagnação. E ficaríamos mais bonitos.

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Desconfiar

Estou desconfiado: a vida não corre mal. Negociações com clientes bem encaminhadas, renovado apetite pela investigação histórica, familiares e amigos que contam com saúde. Falta o Sporting ganhar sempre, os americanos bombardearem as instalações nucleares iranianas, os juízes condenarem os endinheirados, falta o canal 1 da RTP ser extinto, o ensino secundário privatizado, acabar o grotesco privilégio fiscal dos bancos, Cabo Verde e S. Tomé regressarem à soberania portuguesa. E falta uma namorada. Que tem de ser a tal namorada.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Greve do metro

Hoje de manhã, durante 4 horas, os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa fizeram greve. Têm os salários em dia, as horas extraordinárias pagas, as férias gozadas, as licenças previstas autorizadas. E permitem-se fazer greve, complicando a vida de milhares de utentes, prejudicando a empresa que cumpre as suas obrigações. Ora este direito à greve urge ser revisto: não se podendo suprimir o direito à greve, deveriam reduzir-se as circunstâncias que a permitem e deveriam ser aumentadas as penalizações pecuniárias aos grevistas.
Ignoro se existe sobre a matéria algum consistente estudo que nos permita saber quantos milhões já se desperdiçaram com os milhares de greves que desde o 25 de Abril aconteceram.
O que sei é que as greves são um insulto a quem está desempregado e quer trabalhar; e são economicamente lesivas: os serviços públicos e as empresas vêem as suas actividades paralizadas ou reduzidas; e os utentes, instados pelos grevistas a compreenderem a suposta justeza e validade destas, são privados dos serviços que pagam.
As greves consagram uma aberração jurídica: proclamam o direito de poucos prejudicarem muitos, proclamam a chantagem como argumento negocial.

sábado, 16 de setembro de 2006

Um fiasco chamado Sol

Este sábado foi lançado no mercado mais um jornal, o semanário Sol, cuja direcção é constituída por gente que abandonou o Expresso para abraçar este projecto financiado por um empresário da indústria farmacêutica, um empresário do aço e do imobiliário e um administrador da banca.
Estes accionistas merecem palminhas pelo investimento: movimentam capitais, criam emprego, não têm ainda a certeza do lucro. Os jornalistas dirigentes, aqueles que não pagam as instalações, os equipamentos e os salários; que têm as funções de decidir o que se publica, de preparar as manchetes, de escrever editoriais e colunas de opinião, de convidar colaboradores, de escolher o grafismo, não merecem palminhas, mereciam puxões de orelhas e açoites: o primeiro número do Sol, que devia arrebatar o leitor, é, sem surpresa, de uma normalidade bocejante, de um cinzentismo e superficialidade que desencorajam nova compra.
A primeira página avisa que o Sol é "um jornal que vale por si", que "não oferece brindes nem faz promoções", alardeia, prolixamente, que o Sol será "apartidário, sério, rigoroso, sereno, ponderado, responsável, convicto, ousado, acutilante, incómodo, optimista, positivo, moderno, alegre, claro, directo, conciso, completo, profundo, irreverente, influente, surpreendente, institucional", que será um jornal "sem tabus mas com princípios". Isto, para além da excessiva adjectivação tão querida do seu director, ultrapassa o orgulho e a esperança que se sentem quando se empreende algo de novo. Isto é despudorada vaidade, é a famigerada "garganta" de quem se julga formidável. E este jornal bébé, que por imitar ou decalcar o Expresso não deixa de ser bem vindo ao empobrecido mundo da imprensa portuguesa, noticia na primeira página do seu histórico primeiro número, que o ignóbil Isaltino Morais tem a sua vivenda no Algarve "apreendida por ordem do Ministério Público" e que Jorge Sampaio foi considerado por uma sondagem o melhor Presidente da República dos últimos 50 anos. O País, ávido de notícias relevantes, encantou-se com estas pérolas de acutilância e pertinência informativa. O Expresso não se queimará com este Sol.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Recebi um poema

Não é todos os dias que nos dedicam um poema, a acompanhar um girassol. A minha amiga Eva, generosa e dotada da famosa veia, que também vadia pela blogosfera no seu www.akivasha-akivasha.blogspot.com, ofereceu-me o poema que se segue.

És
um segundo inconstante de dor
Numa carícia pendida entre as linhas
Que só o mais cruel dos corpos consegue acordar

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Bicharada

Gosto de animais. Gosto tanto que às vezes chego a pensar que gosto mais de animais que de pessoas. Certo é que os animais desconhecidos facilmente me cativam e me comovem. E não gostar de alguns, ou melhor, recear alguns, não desejar encontrar alguns, não diminui a enorme afeição que tenho pela bicharada que não escreve e não lê. Sempre que as circunstâncias o proporcionam, este sentimento impele-me à acção: ontem cruzei-me com uma cadela boxer abandonada por um qualquer bandalho que merecia a prisão. Mimei-a e alimentei-a. Só não a convidei para dormir no meu quarto porque a senhora minha mãe sofreu que se fartou quando a nossa Bonita morreu e continua indisponível para repetir a experiência. Gostar de animais traz a consoladora sensação de não se ser uma besta insensível, mas tem dois sérios inconvenientes: o primeiro é de natureza financeiro-logística: palpita-me que nunca terei um espaço que me permita reunir os animais que queria ter; o segundo, menos idealista, é relativo à moral alimentar: gostar de animais não me impede, qual hiena, de comer alguns. Não trabalhar em talhos, aviários ou matadouros, pouco me inocenta. Mas a culpa quase não é minha: é dos genes, da educação e do paladar.

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Alicia Titus

Alicia Titus, 28, was born June 11, 1973, in Springfield. Alicia was greatly loved by family and friends. She enjoyed travel and experiencing world cultures. She loved life to the fullest and strived to make a difference in the world. Alicia embodied the spirit of peace and good will throughout her life. Alicia will be sadly missed by family and friends.

Esta menina foi uma das vítimas mortais dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Temos equipa

O jogo era importante. O adversário rico e recheado de jogadores famosos. Ganhar reforçava a confiança e valia 600.000 euros. E ganhámos. Com um golo formidável, berrado até as cordas se cansarem. Uma vitória sofrida, merecida e saborosa. Temos equipa!

domingo, 10 de setembro de 2006

Aviso às leitoras sensíveis

O autor deste blogue informa as suas leitoras que poderá, a qualquer momento, intempestiva ou oportunamente, começar a espalhar pelos seus textos algumas valentes caralhadas. Gajo que é gajo não se pode limitar a gostar de futebol e de mulheres bonitas: tem também que asneirar.

Sharapova


Esta madrugada, folheava uma biografia sobre Albert Speer quando quase me apaixonei por uma menina famosa que não conhecia. Interrompi a biografia e deliciei-me com as fabulosas pernas e o poderoso braço direito da menina Maria Shaparava, que jogava a final do USA Open contra uma belga insípida. Torcer pela loiraça, que tem 19 aninhos e 1,83, que trocou a Sibéria pela Flórida, foi instinto compensador. No final, depois de se ajoelhar no court, as explosões de felicidade substituiram a concentração. E Maria pulou, sorriu, distribuiu beijos pelo público, espreitou o telemóvel, foi à bancada abraçar o pai: a menina recebeu um cheque de mais de 1.500.000 dólares.

sábado, 9 de setembro de 2006

Orgulho

Começo a ter um pouco de orgulho em mim: há 2 dias que não vejo cinco minutos de televisão.

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Novo decálogo

Hoje dedico umas linhas às mulheres, evitando aventuras analíticas ou considerações generalizantes. Limito-me a registar algumas coisas que as mulheres não devem absolutamente fazer. Simples proibições cuja observância reforça a feminilidade da fêmea. É certo que podem melindrar e suscitar a discordância das mulheres mais ciosas da sua individualidade ou das mais arreigadas ao foleiro feminismo; mas, para mim, que tenho sido bastante afortunado em matéria de mulheres, têm uma validade universal.
Eis as proibições - uma menina ou senhora não deve cuspir no chão; não deve trocar o pneu furado, não deve limpar o nariz com o dedo, não deve andar à porrada, não deve dizer que não sabe cozinhar, não deve dizer que não aprecia a actividade sexual, não deve descurar a maquilhagem, não deve negligenciar a indumentária, não deve depender de qualquer macho, não deve abortar.

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

Coisas que nunca fiz I

Para que o meu fantasioso harém digital de centenas de devotadas leitoras saiba um pouco de mim, para que tenham a certeza que eu não sou apenas um gajo que consegue a proeza de tratar com decência a língua portuguesa, decidi que é hora de ir revelando coisas que nunca fiz, que nunca me aconteceram. Mesmo sabendo que as imaginárias fregueses não encomendaram o sermão, estou para aqui virado: quero revelar-me. Discreta ou ostensivamente.
Como são tantas as experiências por experimentar, é complicado escolher uma. Sairão aquelas que primeiro me ocorrerem. Às meninas e senhoras pede-se a gentileza de se comoverem ou abismarem. E assim do pé para a mão, ocorre-me que nunca fui sodomizado, que nunca estive em Nova Iorque, que nunca levei uma carga de porrada.

Mulheres mais velhas

Porque será que, nos últimos dois anos, as poucas mulheres que me atraem, me encantam, me estimulam, são mais velhas que eu ?

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Tomar partido

Para não destoar da alcateia blogosférica, que muito tem opinado sobre o assunto, impõe-se que escreva duas ou três bagatelas sobre as recentes operações militares praticadas pelo verdadeiramente glorioso exército israelita no Líbano.
A primeira bagatela é que Israel, repetidamente atacado por uma organização terrorista que o Estado libanês não quer, não está autorizado ou não consegue controlar, fez, como é seu costume, o que se impunha, atacando as posições do Hezbollah, matando terroristas e destruindo algum do seu material bélico. Porque tem força militar e legitimidade política, Israel ataca quem o agride.
A segunda bagatela é que Israel foi, como é da praxe, criticado e insultado por muitos europeus, que teimam na sua aversão a Israel e persistem em compreender, desculpar ou apoiar os terroristas islâmicos. Porque são religiosamente anti-americanos e porque Israel e os Estados-Unidos são fiéis aliados, estes europeus, que se acham pacifistas ou justiceiros, que vestem Che Guevara ou tatuam Hitler, organizam manifestações onde se berra a bondade dos palestinianos e se exorta os judeus a darem sempre a outra face. A extrema direita neo-nazi não perdoa aos americanos a sua contribuição para a derrota do nazismo e não perdoa aos judeus terem sobrevivido ao holocausto. A extrema esquerda não perdoa aos americanos terem sido decisivos na derrota do comunismo e não perdoa a Israel o seu sucesso existencial. Estes primos são incorrigíveis.

São Valentim

O Diário de Notícias noticiou hoje que os dois famosos machos da dinastia Loureiro, Valentim e João, pai e filho, tinham o hábito de telefonar e de fazer chegar recados aos árbitros, prometendo promoções a quem desse uma mãozinha ao Boavista e ameaçando quem não ajudasse os rapazes de xadrez. Eu que tenho o Major Valentim na conta de cavalheiro fleumático, de idóneo militar injustamente expulso do Exército pelo regime autoritário, de dinâmico autarca adorado pelos seus esclarecidos munícipes, de incorruptível presidente do conselho de administração do Metro do Porto, fiquei muito surpreendido. Felizmente, o Major Valentim vive e exerce as suas profícuas actividades em Portugal, onde os funcionários do Ministério Público e da Justiça respeitam quem ganha eleições e sabem que os políticos raramente cometem ilegalidades. Se tivesse a infelicidade de viver em Espanha ou na Itália, desconfio que o Major Valentim arranjaria algum inimigo na magistratura, que por aquelas bandas tem a impertinência de acreditar que a lei é igual para todos.

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Verão

Quem, para além dos fanáticos que passam as férias a trabalhar para o bronze e dos privilegiados que passam o dia inteiro a gozar a frescura do ar condicionado, pode dizer que adora o Verão ? Quem é que não está farto deste calor infernal que facilita o suor, amolece a vontade, entorpece os neurónios, irrita os nervos, complica o sono, rouba apetite e faz parecer o sexo uma canseira a evitar ? Eu, que não sou maluco por praia e ar condicionado só na Carris, estou fartinho desta estação cruel. E como estou saturado, pergunto-me como é que os americanos ou os japoneses, que são capazes de tudo com as suas tecnologias, ainda não se lembraram de produzir pequenos e portáteis aparelhos de ar condicionado. O mercado procuraria a oferta. A Humanidade agradeceria o alívio.

sábado, 2 de setembro de 2006

Incêndios

Este ano, ao que parece, tem havido menos incêndios. Regozijo-me e pergunto: o que explica a diminuição dos sinistros incêndios? Como há várias possibilidades, ao alcance de qualquer pessoa ainda não tocada por uma doença neurológica, avanço com algumas. O ministro da administração interna tuteia com S. Pedro e por isso temos tido preciosas chuvadas; há mais bombeiros, viaturas, helicópteros e aviões disponíveis; há menos pirómanos em acção; as televisões fazem menos directos e os incêndios amuados com a perda de protagonismo mediático fazem greve.

Este ano é nosso


Avisam-se lampiões e tripeiros, que este ano, se não houver reiteradas roubalheiras e azaradas lesões, o campeão será o Sporting. Lindo!!!

Morreu o Indy


Há muito moribundo, o Independente morreu ontem. Durante alguns anos, a 6ª feira era o dia do Indy. Era um dia ansiado. Esperava-se mais um escândalo, que se lia com avidez, que se discutia. Não se esquecem as suas primeiras páginas com as fotografias dos denunciados e os títulos contundentes e criativos. Servido por jornalistas jovens e talentosos, que tratavam bem a língua, o Independente foi a mais formidável oposição ao cavaquismo.