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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Feliz ignorância

Pessoa, às vezes, incomodava-se com os outros, "que não são para nós mais que paisagem". Com malícia, talvez com secreta inveja, o ajudante de guarda-livros Bernardo Soares escreveu:

"Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes."

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Ai uma asneira

Um dos muitos defeitos deste blogue é a inexistência de asneiras. Sonoras e oportunas; divertidas ou indignadas. Para começar a atenuar tal falha, sirvo-me de Flaubert, que, confesso a vergonha, ainda não li. Flaubert teve um acesso de compreensível revolta e fixou:

"Eu estou a morrer, mas aquela puta da Madame Bovary viverá para sempre".

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Língua

Hoje é o dia da língua materna. Lamentavelmente, continua a ser verdade que "a maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa". A educação é a "paixão" de todos os governos, e os portugueses, contagiados pela inépcia estatal, teimam em não se apaixonar pela sua língua, esmerando-se em maltratá-la. Só uma minoria sente que a "minha pátria é a língua portuguesa".

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Birrinha aquática

Ontem e hoje, o céu cinzento, zangado, deprimente, fez cair muita água. Choveu e choveu e choveu. Se as casas mais acolhedoras com tanta chuva, as ruas acusaram os aguaceiros. Houve ruas e lojas inundadas; demoras e muitos toques nas estradas; prejuízos materiais e pessoas assustadas. E houve também declarações públicas. O ministro do Ambiente, aborrecido por ninguém o conhecer, e a quem faço a gentileza de dizer que se chama Nunes Correia, irritado por talvez ter os sapatos encharcados, tratou de sacudir a água do seu capote, responsabilizando os munícipios, acusando-os de não procederem à elementar limpeza das sarjetas. Os munícípios, claro está, não gostaram, reagiram, tendo o "chocado" presidente da ANMP, Fernando Ruas, também presidente da Câmara de Viseu e viciado em rotundas, lembrado competir ao governo a "limpeza das linhas de água". A nenhum deles ocorreu que o País tem um problema de ordenamento do território e que estas inundações são uma das suas inevitáveis consequências; a nenhum deles ocorreu assumir responsabilidades pessoais. São adultos, desempenham cargos públicos, e permitem-se ostentar alarve inocência. Quase apetece afogá-los.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Politiqueiros

É significativo que não exista um código deontológico para os políticos. Mentem e asneiram impunemente, gozando de uma inimputabilidade só tolerável a pessoas com deficiências mentais.

Abuelos

Hoje, já te lembraste da tua avó materna, já falaste com o teu avô paterno?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A ciência (des)moralizante


Para aqueles que têm a ciência em muito boa conta, segue-se um exemplo de disparatada ciência. Como são humanos, os cientistas, felizmente, também se enganam. Interpretam erradamente, ignoram, confundem, deliram. E passadas muitas décadas, divertem-nos.
«É principalmente sobre o sistema nervoso e orgãos dos sentidos que o onanismo exerce efeitos nocivos muito notáveis.(...)observou que o cérebro nos onanistas era extremamente mole e de pouca consistência.(...)As pessoas que abusam de si mesmas experimentam frequentemente(...)um enfraquecimento muito notável das faculdades intelectuais;(...)ficam embaraçados, perturbados, quando se encontram diante de alguém, fogem da sociedade, procuram a solidão, são tristes, inquietos, tímidos, atormentados pela melancolia e pelo desespero, caem em completa apatia. Muitas vezes vêm pôr termo a estes males ou a mais completa mania, ou o suicídio.»

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Pessoa I

Pessoa íntimo e universalizante, por todos compreendido e comungado:

"Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me de dentro."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Vieira


O "imperador da língua portuguesa" nasceu a 6 de Fevereiro de 1608. Deste homem prodigioso, que defendeu os cristãos-novos e teve a coragem de denunciar os prejuízos da Inquisição; que missionou os índios com proveito e denunciou as violências dos colonos; deste poliglota que acreditava na utopia da paz universal inspirada por Cristo - aqui se deixa um pedaço do sermão aos peixes:
Vós, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma cousa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!